Conheça a história do ‘Clube de Compras VARIG’ que ajudava vítimas da AIDS

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Avião Boeing 747-300 VARIG
Imagem: contri / CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons

No filme Clube de Compras Dallas (2014) o ator Matthew McConaughey interpreta um eletricista que, após ser diagnosticado com AIDS, se recusa a se entregar para a doença e começa a contrabandear medicamentos ilegais do México. Um caso semelhante poderia ter inspirado uma versão nacional intitulada “Clube de Compras VARIG” com doses equivalentes de emoção e aventura.

A história foi contada pelo repórter Leandro Machado para a BBC Brasil no início deste ano. Na década de 1980, quando a AIDS ainda era uma doença de alta letalidade, com poucos tratamentos disponíveis, uma rede de comissários da VARIG se formou para prestar suporte a vítimas da doença.

Os comissários que pertenciam ao grupo levavam receitas médicas para o exterior, onde compravam os remédios por meio de doações e traziam para os pacientes brasileiros. Os medicamentos entravam livremente no Brasil com os tripulantes, embora não tivessem registro para serem comercializados no país, o que configurava a prática como crime de contrabando.

Como nasceu o grupo

O grupo nasceu quando a epidemia atingiu em cheio os funcionários da companhia. Segundo Mario Augusto dos Santos Filho, 78, ex-chefe dos comissários de voos internacionais da Varig, em entrevista à BBC, cerca de 45 comissários morreram em poucos anos, e diversos outros foram diagnosticados com a doença, o que causou alarde na empresa e nos funcionários.

Sobravam denúncias de discriminação e até demissões de pessoas doentes. Em 1989, vários grupos de ativistas protestavam em frente à sede da companhia contra a forma como a epidemia era lidada pela empresa. Há pelo menos um caso conhecido em que a Varig foi condenada pela Justiça a indenizar um ex-trabalhador que foi demitido por tero vírus HIV da doença.

Em meio à crise de saúde, tanto física quanto emocional, alguns comissários se ofereceram para comprar remédios supostamente mais eficientes no exterior, trazê-los para o Brasil e entregá-los para os colegas doentes. Em pouco tempo, pessoas próximas a esses comissários pediram o mesmo tipo de ajuda. Pelo boca a boca, a história se espalhava, e cada vez mais pessoas pediam ajuda ao grupo.

Fazendo vistas grossas

De acordo com a reportagem da BBC, que ouviu ex-funcionários da companhia, os agentes do aeroporto sabiam da transação ilegal, mas, diante da gravidade da epidemia, deixavam os itens passar pelas barreiras alfandegárias sem inspeção. Os medicamentos eram entregues na sede da companhia, no Rio. “Havia até uma janelinha onde as pessoas pegavam as caixas. Era um sistema muito competente: em 48 horas o paciente conseguia o medicamento”, conta Mário Augusto. 

Segundo o ex-comissário, o serviço voluntário e gratuito durou do final dos anos 1980 até, pelo menos 1996, quando o Congresso brasileiro aprovou a lei que garante tratamento universal contra a AIDS no Sistema Único de Saúde (SUS). Com medicamentos mais eficientes sendo vendidos nas farmácias brasileiras, a importação ilegal acabou se tornando desnecessária.

No começo dos anos 1980, comissários já usavam voos internacionais para fornecer medicamentos para outras doenças, como câncer. Remédios de alto custo no Brasil eram adquiridos a preço mais baixo nos Estados Unidos e outros países. Ações como essas podem ter ajudado a diminuir o sofrimento de muitas pessoas que pouco tinham a recorrer em uma época em que a ciência ainda engatinhava no controle desse terrível mal.

Confira a reportagem completa da BBC Brasil clicando aqui.

Fabio Farias
Fabio Farias
Jornalista e curioso por natureza. Passou um terço da vida entre aeroportos e aviões. Segue a aviação e é seguido por ela.

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