A história do passageiro que ficou preso no aeroporto por mais de 100 dias

Com o início da pandemia da COVID-19 no ano passado, muitos viajantes foram pegos de surpresa com os bloqueios de segurança impostos pelos governos, a fim de barrar a disseminação do vírus. Com isso, passageiros ficaram presos em hotéis e até mesmo em aeroportos.

Dentre tantos casos desses passageiros que tiveram que permanecer em algum país por dias ou até semanas, destaca-se um fato interessante e intrigante: um passageiro teve que permanecer no aeroporto por mais de 100 dias.

O caso aconteceu com um programador de computador, de 37 anos e morador da Estônia, país no norte da Europa. Roman Trofimov intitula-se como o “europeu preso no Aeroporto Internacional de Manila por 110 dias”.

Essa curiosa história começa em 2020, no início da pandemia, quando Trofimov, em comemoração ao seu aniversário, resolveu viajar até a Ásia, passando pela Tailândia, onde ficou uma semana e, em seguida nas Filipinas.

Segundo relata o EuroNews, Roman disse que foi uma infeliz coincidência ele chegar nas Filipinas e o bloqueio de fronteiras ser imposto, impossibilitando ele de conhecer o país.

Com o bloqueio para Trofimov entrar ao país, suas únicas opções eram retornar à Estônia ou então ir de volta para a Tailândia, porém oficiais filipinos que Roman deveria retornar somente na mesma companhia aérea. À época, seu visto provisório para a Tailândia havia expirado e todos os voos de empresa estavam cancelados.

“Eles me disseram que eu deveria esperar até que o bloqueio acabasse e os voos fossem restaurados: ‘A situação é assim, inusitada e só resta esperar, não podemos te oferecer nenhuma solução’.”

Segundo Roman, seu passaporte foi tirado nas Filipinas, antes que ele entrasse na imigração. Além disso, Roman estava portando somente um “passaporte cinza”, um documento comum na Estônia para aqueles que apenas receberam residência no país, ao invés de cidadania automática, quando a Estônia se separou da URSS e se tornou independente. Ele diz que chegou de viagem como um homem livre, para aproveitar suas férias, mas naquele dia se sentiu como um prisioneiro.

Passando então a primeira semana no aeroporto à espera do desbloqueio das fronteiras, Roman comenta:

“As condições que eles criaram eram terríveis, apenas cadeiras de metal e isso era tudo. Era como uma área de trânsito, e não como se estivesse dentro do país. O pessoal do aeroporto se ofereceu para trazer um pouco de papelão para dormir, mas isso dificilmente era suficiente para ser confortável.

“As baratas estavam por todo o terminal e rastejaram-se sobre mim enquanto eu dormia, luz permanente, música tocava automaticamente por todo o terminal a cada dez minutos, sempre a mesma música. Eu senti que estava enlouquecendo, dormindo em bancos de metal, ar condicionado frio e música alta sem parar.”

Já há uma semana no aeroporto, a luta ficou evidente para o viajante, que teve que usar os banheiros públicos para se lavar sem chuveiro, além de lavar sua própria roupa. Para comer, foi outra dificuldade, pois com o avanço da pandemia, todos os restaurantes ficaram fechados.

“Havia um restaurante de fast food fora do terminal, então tive que dar dinheiro para o segurança, para que ele pudesse comprar comida para mim.”

Com o auxílio de um político de seu país, Roman acabou se hospedando em um hotel dentro do próprio aeroporto, no terminal de embarque e, finalmente recebeu comida da companhia aérea.

Roman conta sua angustiante rotina, já hospedado no hotel, no aeroporto vazio, sem o movimento diário de passageiros e voos, totalmente isolado de tudo.

“Era a mesma coisa todos os dias. Acordava e não sabia o que fazer, não tinha muito o que fazer, é só um terminal. Eu não tinha liberdade, só podia me mover dentro do terminal, não podia sair.”, Lembra Roman.

“Eu podia ir lá só para passear, sentar nos bancos, mas não tinha nada porque não tinha voos, não tinha gente, estava vazio. Todos os dias eram iguais.

“Eu só estava esperando que a quarentena acabasse, porque eles estendiam a cada duas semanas, mas depois continuaram estendendo mais e mais, e três meses já haviam se passado”.

Após 90 dias ‘preso’ no aeroporto das Filipinas, o viajante estoniano começou a observar as fronteiras serem abertas pouco a pouco e, gradativamente, todos os passageiros voltarem a seus destinos, mas ainda sem voos para seu país de origem.

Roman conta que não aguentava mais a situação, já que estava retido ali há meses. Com o auxílio das redes sociais, começou a contar sua história e postar tudo que estava passando no aeroporto, desde a sua chegada às Filipinas. O apelo feito nas redes tomou conta dos noticiários de seu país, onde rapidamente conseguiram um voo de volta, através de um vereador.

Segundo a mídia europeia, o estoniano não foi o único a ficar retido no Aeroporto da Manila. Vários viajantes também tiveram que permanecer no país, mas não por tanto tempo. Além de Roman, apenas outras duas pessoas permaneceram por mais de três meses no aeroporto, sendo um da Costa do Marfim e outro de Camarões.

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Juliano Gianotto
Juliano Gianotto
Ativo no Plane Spotting e aficionado pelo mundo aeronáutico, com ênfase em aviação militar, atualmente trabalha no ramo de fotografia profissional.

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