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A aviação sempre nos apresenta casos incríveis de superação: um piloto, sem um olho, conseguiu efetuar um pouso bem-sucedido depois que seu Boeing 737 perdeu a potência dos dois motores.
O caso parece inacreditável, mas aconteceu nos EUA, exatamente 32 anos atrás, em 24 de maio de 1988. O voo 110 da salvadorenha TACA Airlines (hoje parte da Avianca) partiu de Belize, na América Central, para Nova Orleans, na Louisiana, EUA.
O voo era operado por um 737-300 de matrícula N75356, que tinha sido entregue pela Boeing à TACA fazia menos de um mês, uma aeronave nova em folha.
Nova Orleans é uma das principais cidades no Golfo do México, região que é conhecida por suas tempestades, e, neste dia, não foi diferente.
Ao perceber grandes nuvens de chuva pouco antes da descida, o Comandante Carlos Dardano ativou o modo de “ignição contínua” no jato, um mecanismo que atua exatamente para evitar um possível “apagamento” do motor pela ingestão de água e gelo.
Carlos tinha 29 anos na época, mas contava com bastante experiência na aviação, tendo inclusive perdido um olho após decolar de um aeroporto durante uma evacuação de engenheiros italianos no meio da Guerra Civil de El Salvador. Durante a decolagem, um guerrilheiro atirou contra o avião, tendo o projétil perfurado a aeronave e atingindo seu olho esquerdo. Mesmo ferido e sem a visão do olho atingido, Carlos continuou o voo e pousou em segurança, mas esta não seria seu único feito histórico.
Mesmo cego de um olho, Carlos continuou a voar e entrou para a TACA, onde agora enfrentava um novo desafio: passar pela tempestade com a maior segurança possível.
Usando do novo radar meteorológico na aeronave, a tripulação técnica, que também era composta pelo co-piloto Dionisio Lopez e o comandante em instrução Arturo Soley, decidiu evitar as partes mais densas da tempestade, mas, infelizmente, a escolha não adiantou.
#OTD in 1988: TACA Flight 110, a B-737 with 45 aboard, lost both engines on a storm over Louisiana (US) but crew – including a captain who had lost an eye – landed safely on a grass levee. After engine replacement, the jet took off from the same spot and returned to service. pic.twitter.com/QaY6WZNdw6
— Air Disasters OTD (@OnDisasters) May 23, 2020
No que se revelou mais tarde ser uma falta de precisão do radar, os pilotos voaram em uma tempestade nível 4, de uma escala que vai até 5.
Ao cruzar o nível de voo 160, a aproximadamente 4,8 km de altitude, ambos os motores do Boeing 737 apagaram. A tripulação seguiu o manual e tentou religá-los, mas não obteve sucesso.
Sem muitas opções, seguiram para um pouso de emergência em local improvisado, já que não tinham pistas próximas o suficiente, e o avião sem potência era apenas um grande e pesado planador.
Carlos avistou um canal, dentre os vários que fazem parte das áreas alagadas da Louisiana, e optou por pousar lá. Mas logo seu copiloto viu que, ao lado do canal, havia um gramado que aparentemente era plano, e então decidiram pousar lá.
Apesar de toda a tensão a bordo e sem opção de arremetida, o avião pousou no gramado sem maiores problemas. O jato até mesmo decolou por meios próprios dias depois, e voou por muitos anos, inclusive na Morris Air do brasileiro David Neeleman, que foi incorporada à Southwest Airlines, em que o 737 se aposentou em 2016 como N697SW.
Após as investigações, diversas melhorias foram feitas nos motores, de modo a evitar a ingestão excessiva de água, assim como drenar mais eficientemente o excesso do líquido.
Carlos continuou voando após seu segundo acidente, tendo depois migrado para o Airbus na própria TACA. Após se aposentar da aviação comercial, dedicou-se à aviação acrobática. O acidente é retratado num episódio da série MayDay:
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