Ao ir e voltar do Brasil ontem, piloto fala sobre passar 27 horas sem sair do avião

Não é novidade que a situação da Covid-19 no Brasil é crítica, e que isso tem levado muitos países a continuarem com fortes restrições sobre passageiros chegando em viagens aéreas provenientes de nosso país, assim como também acontece com viajantes chegando de outros países ainda em situação semelhante de contaminação do coronavírus.

Diante desse fato, a solução encontrada por companhias aéreas para continuar efetuando voos para os países com alto risco de contágio – mantendo assim seu negócio em funcionamento e também a necessária conectividade global de passageiros e/ou de carga promovida pela aviação – tem sido não desembarcar tripulantes no destino, o que evita a necessidade de medidas de quarentena que tirariam temporariamente os funcionários da escala de voos na volta ao país de origem.

Um exemplo dessa nova realidade da aviação ficou evidente neste final de semana, quando um piloto comentou, através de uma publicação em rede social, sobre sua jornada em um voo rumo ao Brasil.

Em suas palavras, ao mostrar imagens dos assentos no interior do avião, o comandante disse: “Hoje uma viagem muito longa; Londres Guarulhos Londres com 7 pilotos. Aqui é minha casa pelas próximas 27 horas ou mais!”.

Para algumas pessoas isso pode parecer preocupante, uma vez que existem regras de limite de jornada de trabalho na aviação para, por exemplo, evitar problemas de fadiga dos tripulantes que levariam a um aumento de risco de acidentes.

Entretanto, este “novo método” utilizado pelas empresas aéreas não se enquadra em um possível estouro de limite de jornada, pois, embora todos os tripulantes estejam a bordo durante a ida e a volta, eles não estão todos trabalhando em todo o trajeto.

Durante a ida, uma parte deles permanece na cabine de passageiros como se fosse apenas um viajante a bordo, e não um tripulante, portanto, sem nenhuma função ou responsabilidade sobre o voo. Então, durante a parada no destino, é feita a inversão. Na volta, quem era passageiro se torna tripulante, e vice-versa.

O próprio comandante Mark fala sobre isso ao responder um comentário feito por outra pessoa em sua publicação, que perguntou “Isso é um simples trabalho de pouso-reabastecimento-decolagem onde a tripulação dorme?”, ao que o piloto disse “Sim, troca de tripulação no solo. Dormimos na ida e a outra tripulação dorme na volta”.

Embora este tenha se tornado um método de trabalho útil para o tempo de restrições sanitárias, outro comentário de Mark mostra, como era de se esperar, que se trata apenas de uma necessidade. Quando outro internauta comentou “Essa é uma viagem legal, eu acho”, o piloto respondeu: “Na verdade não. Eu prefiro operações normais, mas para manter as operações em andamento, esta é a única opção no momento.”

E para finalizar, é importante ressaltar que não se trata de algo feito especificamente pela empresa aérea do comandante em questão, a British Airways, mas sim por muitas das empresas em todo o mundo. Isso inclui, por exemplo, a Azul Linhas Aéreas, que em um de seus voos para buscar carga na China no ano passado também enviou equipe extra de tripulantes e não desembarcou ninguém na rápida parada no destino.

Caso queira relembrar esta operação da Azul, pode acessar clicando aqui ou no título abaixo.

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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