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Itapemirim afirma que levou quase 600 mil nos voos, mas dado foge da realidade

Airbus A320 da Itapemirim

Enquanto avança em seu 6º mês de operações desde a estreia em julho deste ano, a nova empresa aérea brasileira Itapemirim Transportes Aéreos, do grande grupo de transporte rodoviário de mesmo nome, afirma que já se aproxima da marca de 600 mil passageiros em seus voos.

Segundo informa o Panrotas, a afirmação foi feita pelo presidente do Grupo, Sidnei Piva, na última terça-feira, 30 de novembro, durante o Fórum Panrotas 2021, quando comentou que a empresa aérea esperava ocupação média de 30% nos primeiros voos, mas operou com 70%. “Nesses cinco meses, transportamos quase 600 mil passageiros”, disse o executivo.

A informação, no entanto, diverge da realidade a partir do que se pode concluir pelas operações da empresa segundo os dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), que publica mensalmente as estatísticas do transporte aéreo brasileiro com base nas informações fornecidas pelas próprias companhias aéreas.

Os dados atuais

Segundo os dados da ANAC, o número de passageiros pagos transportados pela Itapemirim evoluiu da seguinte forma desde sua estreia:

– 19.044 pessoas em julho;

– 46.526 em agosto;

– 91.492 em setembro.

Isso totaliza 157.062 em três meses. A empresa aérea não disponibilizou à Agência reguladora os dados de outubro, e os de novembro somente deverão publicados próximo ao final de dezembro.

Apesar dos dados incompletos para se computar o total exato de passageiros até o final de novembro, uma análise das operações da companhia nos permite tirar algumas conclusões, conforme detalhadas a seguir.

Desde o início do mês de setembro, a Itapemirim já estava utilizando cinco aviões Airbus A320, que voaram, segundo os dados da ANAC, com 67% de aproveitamento dos assentos disponibilizados no mês.

Assim sendo, uma conversão dos 91.492 passageiros (com 67% de ocupação) de setembro para uma suposta ocupação de 100% resultaria em cerca de 136.500 passageiros em cada um dos dois meses seguintes.

Portanto, se em outubro e novembro a Itapemirim voasse com 100% de ocupação, teria totalizado cerca de 273.000 passageiros nos dois meses. Somados ao total de 157 mil até setembro, seriam cerca de 430 mil desde o início das operações.

A única maneira de se aproximar de 600 mil pessoas no período seria levando, nestes dois últimos meses, cerca de 170 mil passageiros além dos 273 mil calculados. Isso significaria 62% mais pessoas, algo impossível diante da taxa de ocupação de 100% considerada no cálculo acima.

Dessa forma, as únicas maneiras de conseguir levar mais passageiros seriam um aumento de frota ou uma intensificação do número de voos com o mesmo número de aviões para compensar os 62% de passageiros extras.

A primeira possibilidade é descartada diante do fato de que nos dois meses, outubro e novembro, a frota permaneceu inalterada, exceto nos últimos 5 dias de novembro, quando o sexto A320 entrou em operação.

A segunda conta

A segunda possibilidade, por sua vez, fica descartada diante das estatísticas da plataforma de rastreamento RadarBox, apresentadas na imagem abaixo. Nota-se que o número de voos teve aumento inferior a 20% em outubro em relação a setembro, e em novembro ainda houve redução dos voos, voltando ao mesmo patamar de setembro.

Fonte: RadarBox

A tendência mensal vista nos dados do RadarBox é condizente com os voos aprovados pela ANAC para serem efetuados pela Itapemirim. Segundo o sistema da Agência, de setembro a novembro a companhia teve a seguintes quantidades de voos aprovados (não necessariamente todos executados, já que podem ter havido cancelamentos):

– 920 voos em setembro;

– 1028 voo em outubro;

– 944 voos em novembro.

Dessa forma, foram no máximo 1972 voos em outubro e novembro, que resultariam em no máximo 319 mil passageiros se todos partissem com 100% de ocupaçãodos 162 assentos. Mais uma vez somando-se este valor com os 157 mil dos três primeiros meses, o total máximo possível é de 476 mil pessoas nos cinco meses de operação.

Portanto, levando-se em conta que a ocupação dificilmente manteve-se perto de 100% (é raro qualquer empresa aérea voar com tão alto aproveitamento) e que não houve expansão significativa do número de voos ou de aeronaves, é praticamente descartada a possibilidade de a empresa ter se aproximado, até o final de novembro, de quase 600 mil passageiros transportados, ou até mesmo de 500 mil.

Seguiremos acompanhando a publicação dos dados oficiais da ANAC e traremos atualizações sobre a evolução dos números da Itapemirim, assim como das demais companhias nacionais, como fazemos mensalmente.

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