Latam anuncia voo para o Catar, mas será que a rota comporta duas empresas?

Aproveitando-se do anúncio da ampliação de operações em seu hub de Lima, no Peru, o Grupo Latam também informou ao mercado que está estudando a viabilidade de introduzir um voo de São Paulo a Doha, no Catar. Não está claro, no entanto, se isso resultará na saída da Qatar Airways do Brasil.

Latam Catar

Antes de entrar nos detalhes do que a Latam anunciou, é sempre importante falar dos laços que a unem com a Qatar Airways.

Atualmente, a empresa árabe detém 10% do capital da Latam e tem um assento no Conselho, embora seu presidente, Al Baker, já tenha espalhado por aí a intenção de ampliar esse investimento. Além disso, elas também têm acordos operacionais, onde a Qatar tem sub-arrendado ou assumido a compra de diversos Airbus A350 que seriam da Latam, inclusive operando-os na pintura da última, como vimos acompanhando por aqui.

Portanto, à primeira vista, pode parecer estranho a Latam demonstrar interesse de entrar num mercado e concorrer com uma empresa parceria. Mas vamos ver como está a ocupação dos voos da Qatar na rota.

Ocupação da rota Buenos Aires – São Paulo – Doha

A Qatar Airways voa de diariamente com Boeing 777-200LR, para 259 passageiros, de Doha para Buenos Aires, com parada em São Paulo, assim como o voo de volta. Segundo dados da ANAC, entre Janeiro e Agosto de 2019, os números da rota ficaram assim:

IDA: Doha – Guarulhos – Buenos Aires (QR773)
– Assentos disponíveis: 259 por voo = 62.160 em oito meses
– Passageiros (sem Buenos Aires) = 44.265
– Passageiros (contando os que vão a Buenos Aires) = 58.236
– Ocupação (sem Buenos Aires) = 71%
– Ocupação (com Buenos Aires) = 93%

VOLTA: Buenos Aires – Guarulhos – Doha
– Assentos disponíveis: 259 por voo = 62.160 em oito meses
– Passageiros (sem Buenos Aires) = 47.167
– Passageiros (contando os que vem de Buenos Aires) = 61.183
– Ocupação (sem Buenos Aires) = 76%
– Ocupação (com Buenos Aires) = 98%

Os números são impressionantes, com aviões voando praticamente cheios todos os dias, no entanto, ainda assim, nota-se uma dependência dos passageiros que viajam de Buenos Aires a Doha para que o voo seja viável.

Ainda há um outro “revenue stream” que foi desprezado da análise acima, mas que faz a diferença para que a Qatar considere a rota viável. Refere-se à permissão que ela tem para vender passagens de ida e volta na rota São Paulo – Buenos Aires e que ajudam a encher o avião após desembarcar a maioria dos passageiros em Guarulhos, o mesmo se aplica para o retorno. Se não fosse assim, ela teria um Boeing 777 voando praticamente vazio entre SP e a capital argentina.

A Latam pode voar para o Catar?

Poder, pode. Mas, honestamente, é difícil afirmar que a entrada da Latam na rota configure algo rentável se a Qatar continuar operando, segundo os números atuais.

Mas lembre-se que há restrições que impedem a Qatar de sobrevoar alguns países do Oriente Médio e, portanto, o voo fica mais longo e custoso, enquanto que, se operado com uma aeronave Latam, a rota mais eficiente (direta) pode ser utilizada. Por outro lado, isso implica numa fuga de receita da Qatar, ainda que ela seja acionista da Latam.

Se não for por esse motivo, pode ser que as empresas apostem num crescimento econômico que influencie a demanda ou então que algo muito atrativo seja introduzido de modo a levar mais pessoas a fazer suas conexões para Ásia e África a partir de Doha. Ainda assim, a Latam disse em comunicado que essa rota está “sujeita à viabilidade operacional” e que “complementaria o código compartilhado bilateral entre LATAM Airlines Brasil e Qatar Airways, implementado em outubro de 2019”.

Não parece muito clara a afirmação da Latam nesse caso, já que não haveria nenhum impeditivo técnico para ela entrar na rota e, baseado na nossa experiência, se a ideia de voar para o Catar não fosse séria, ela não divulgaria.

No passado, informações extra-oficiais comentavam que a Latam voaria para Doha e que a Qatar deixaria de operar, mas não passou de um boato. Agora o assunto surge novamente. O que você acha que pode acontecer? Qatar sai e Latam assume a rota?

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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