Manobra mal calculada faz escada acertar em cheio o motor de avião Boeing 737

Um Boeing 737-800 de matrícula LV-HQH, nas cores da Norwegian Air, foi atingido por uma escada no Aeroporto Internacional de Ezeiza, em Buenos Aires, na semana passada, em data não confirmada.

Pelas imagens do incidente, nota-se que a aeronave sofreu danos na carenagem do motor número 1 (esquerdo), que agora terá que ser substituída, gerando um custo adicional para uma aeronave que deveria já ter ido embora da Argentina há meses. Aparentemente, não houve dano ao motor.

Curiosamente, esse avião está há meses sem voar e a JetSmart, que assumiu as operações da Norwegian na Argentina, tenta devolvê-lo desde o ano passado, mas esbarra em burocracias inúteis.

Me deixa devolver

A subsidiária argentina da Norwegian foi comprada de dezembro de 2019, a poucos dias da troca de governo na Argentina, por outra companhia aérea de baixo custo, a JetSmart, cujo gerente geral, Gonzalo Pérez Corral, disse ao Clarín que o contrato de compra foi aprovado pelo governo anterior.

Esse acordo incluía um detalhe básico: a JetSmart teria que retornar à empresa-mãe da Norwegian os três aviões Boeing 737-800 que a filial argentina possuía, para substituí-los gradualmente por seus próprios aviões Airbus. Esse processo é completamente normal e, dessa forma, os passageiros que haviam comprado passagens da Norwegian na Argentina começariam a voar em aviões JetSmart com o tempo.

Sucedeu que, no começo do ano, e a troca de governo, as novas autoridades da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) da Argentina não aceitaram esse acordo e argumentaram que a troca de aviões era um acordo entre empresas privadas que não possuem autorização oficial e exigiram que a JetSmart apresentasse uma série de certificações adicionais para autorizar suas aeronaves Airbus A320 a operar no Aeroparque, em Buenos Aires, onde os Boeings da Norwegian já voavam.

Como não houve acordo com a ANAC Argentina, não restou alternativa à JetSmart senão manter os Boeing 737 fazendo seus voos.

Depois disso, veio a pandemia, os aviões foram todos parados e os voos na Argentina cancelados até a próxima ordem (pelo menos até setembro), com isso, os Boeings da Norwegian acabaram ficando ali. Em paralelo, a autorização para a JetSmart voar com seus Airbuses no Aeroparque, acredite, ainda não saiu.

Burocracias inúteis

No começo do ano, a ANAC emitiu uma declaração da seguinte maneira: “O Certificado de Operador de Serviços Aéreos, concedido pela ANAC às empresas que exploram comercialmente o transporte aéreo deve ser alterado, pois este documento contém as características das operações que podem ser realizadas. Fazer a compra de uma empresa não significa que as autorizações da outra empresa sejam transferidas para você. O Certificado de Operador deve ser alterado para poder operar”.

Parece uma burocracia sem fundamento, no entanto, fontes do governo disseram ao Clarín que o buraco é mais embaixo e, seguindo as novas diretrizes do governo que assumiu o país no final do ano passado, a ANAC estaria reavaliando a viabilidade de autorizar a fusão de empresas vis-à-vis o interesse público em tal ação.

Diante dessa situação, a JetSmart optou por trabalhar com a única ferramenta que tem hoje, ou seja, continuar usando aeronaves da Norwegian. Enquanto isso, a empresa segue em seu intento de convencer a ANAC local e usar seus próprios aviões.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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