Mesmo pagando o dobro, Etihad sofre para conseguir tripulantes interessados em voar à China

À luz do coronavírus, vimos muitas companhias aéreas cancelarem voos para a China. Enquanto isso, a Etihad, uma das companhias aéreas nacionais dos Emirados Árabes Unidos, adotou uma abordagem não convencional para manter seus serviços e encontrar tripulantes para seus voos. Veja o que ela esta fazendo.

Avião Airbus A380 Etihad tripulantes
Airbus A380 da Etihad

Apesar de haverem suspendido quase todas as rotas para a China, as empresas emiradenses Etihad e Emirates mantiveram seus voos para Pequim. Enquanto a Emirates liga a capital chinesa com o mundo através de Dubai, a Etihad o faz em Abu Dhabi.

No entanto, a decisão de manter os voos para a capital chinesa talvez não seja o maior desafio para as empresas, mas sim lidar com a grande quantidade de variáveis que foram incluídas no pré, durante e pós-voo. Isso tem tornado as equipes de planejamento de rede e de frota em verdadeiros malabaristas.

Oito horas antes

A experiência de voar com essas companhias aéreas a partir de Pequim parece péssima nos últimos dias, pois os passageiros são aconselhados a comparecer no aeroporto oito horas antes do voo para os exames médicos.

Além do mais, parece haver uma jogada política por trás da manutenção dos voos porque, embora as empresas sejam estatais, a ideia inicial era pelo cancelamento total dos voos à China, mas o governo emiradense pediu para que elas não cancelassem a ligação com Pequim.

Achar tripulantes está difícil

Como era de se esperar, a montar o staff de tripulantes para os de Pequim tem sido um desafio por alguns motivos.

  • Em primeiro lugar, a escala não é fixa, ou seja, os tripulantes voam diversas rotas da empresa e não apenas para um determinado destino, salvo em casos onde o tripulante pede para voar mais em uma rota (ainda assim não é certeza de que conseguirá, mas a equipe de escala fará o máximo para atender ao pedido);
  • Além disso, quase ninguém quer ir tanto à China e os tripulantes vêem isso como “arriscado” e não querem pegar esses voos (seja por medo racional ou não);
  • Muitos países estão perguntando aos passageiros e tripulantes que desembarcam se eles estiveram na China continental nos últimos 14 dias, e isso pode representar um grande problema para as tripulações das companhias aéreas. Lembre-se que, quando a Qatar Airways cancelou voos para a China continental, eles alegaram fazê-lo “devido a desafios operacionais significativos causados ​​por restrições de entrada impostas por vários países”.

Como a Etihad está contornando isso tudo?

Dada a situação, o ideal seria ter equipes dedicadas exclusivamente a essa rota no momento. Dessa forma, os membros da tripulação não enfrentariam a situação de operar um voo de Pequim e, em seguida, ter grandes problemas quando tentassem entrar em outro país em sua próxima viagem, por exemplo. Mas como você consegue que os funcionários sejam voluntários para operar apenas voos de Pequim?

Para isso, a Etihad montou um plano. Em um memorando interno para a tripulação de cabine, a empresa destaca que os desafios impostos pelos tempos de coronavírus e passou a oferecer aos tripulantes a oportunidade de se voluntariar para operar nos voos exclusivamente de e para Pequim, com as seguintes ofertas:

  • A Etihad está oferecendo o dobro do salário por hora durante esse período;
  • As refeições serão fornecidas no hotel, até o valor de US$45 por dia;
  • As tripulações farão rotações de três dias – voarão para Pequim, terão 15 horas de escala diurna, e na volta à Abu Dhabi terão dois dias de folga.

Agora, a Etihad precisa de 70

Para viabilizar o plano, a Etihad está procurando 70 tripulantes para se voluntariarem a essa tarefa especial, e a empresa diz que “será dada preferência à tripulação de cabine chinesa que desejar apoiar a China durante esse período”.

Observe que o “pagamento por hora dupla” não se traduz em duas vezes a remuneração total. A equipe da Etihad recebe um salário mensal básico, mais o pagamento por hora. Para a maioria das equipes, pouco mais da metade de seu salário é composto de salário-base, portanto, na realidade, o salário total aumentaria um pouco mais de 50%.

A nossa curiosidade é: vencida a etapa de gestão da escala de tripulantes, será que há passageiros para esses voos?

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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