Mundo pode ter ‘turismo da vacina’ em 2021, alerta economista

Foto por Chad Davis (CC BY-SA 2.0)

O anúncio de que o mundo está próximo de uma vacina contra a COVID-19 anima populações tristemente castigadas pela doença ao redor do globo. Porém, nos primeiros meses de 2021 ainda poucos países terão acesso aos poucos imunizantes que serão disponibilizados no mercado, o que deve favorecer um forte “turismo da vacina”, no começo do ano.

A análise em questão foi alvo de artigo assinado pelo economista Tyler Cowen para a prestigiada agência Bloomberg. Cowen aposta que as vacinas chinesas testadas em diferentes países do mundo serão as primeiras a obter autorização maciça para utilização em larga escala. Por esse motivo, os países que primeiro receberam autorização para aplicação em massa da vacina podem receber viajantes estrangeiros dispostos a pagar para serem  imunizados prioritariamente.

Europa e Oriente Médio

O autor cita como exemplo os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, no Oriente Médio, que deram autorizações especiais para uso emergencial para a vacina Sinopharm, que já foi dada a centenas de milhares de pessoas na China. Essa é uma das vacinas que está no estágio 3 de testes, assim como a também chinesa Sinovac, que está em fase avançada de estudo no Brasil, junto com outras vacinas.

O Reino Unido, com Oxford / AstraZeneca, e Alemanha, com a Pfizer / BioNTech, também podem ter vacinas aprovadas até o fim do ano, com maior capacidade de oferta no curto prazo. De acordo com Cowen, a União Europeia possui uma política de aprovação de eficácia mais ampla que os Estados Unidos, sem que isso comprometa a segurança dos imunizantes.

Cowen prevê que se a Europa e o Oriente Médio conseguirem aprovar vacinas antes dos Estados Unidos, norte-americanos endinheirados podem optar por viajar apenas para receberem a vacina e se livrarem definitivamente da doença. Mesmo que os EUA aprovem uma política de imunização ainda nos primeiros meses de 2021, pessoas com recursos financeiros de outros países podem optar por cruzar fronteiras e tentar se vacinar.

O autor lembra, contudo, que os países em questão podem impor barreiras legais para impedir vacinação de pessoas que não se enquadrem em determinado público-alvo. Isso pode fomentar um mercado ilegal de vacinas ou, senão tanto, uma forte instrumentalização das brechas nas leis regionais para aquisição das drogas.  

“Os regulamentos sobre essas vacinas serão tão novos que certamente haverá brechas, portanto, não pense que isso é necessariamente uma transação ilegal ou no mercado negro. É mais semelhante a um mercado cinza. Pode haver algum risco legal, é claro, e quanto maior fo, maior será o preço para induzir alguns vendedores a desviar o fornecimento”, diz Cowen.

China e EUA

Cowen também aponta para a possibilidade de alguns países, como a China, fazerem da vacina uma peça de propaganda e encorajar países sob sua influência econômica a promoverem a vacinação de estrangeiros, sobretudo europeus e americanos.

Para o economista, os próprios EUA podem concordar, ou ao menos tolerar, tal situação. Se vacinas razoáveis ​​forem aprovadas em outros países primeiro, as elites americanas podem manifestar indignação contra o “atraso” de seu país. “Em vez de consertar o complicado sistema de aprovação e distribuição de vacinas da América, o governo federal pode achar mais fácil encorajar uma ou duas nações aliadas a oferecer seu produto aos visitantes americanos”, opina Cowen.

É certo, contudo, que a distribuição da vacina não será uniforme em todo o planeta num curto espaço de tempo. Nesse ponto, o Brasil está em situação privilegiada, com acordos de testagem e compartilhamento de tecnologia que podem colocar o país nas primeiras colocações dessa corrida. Mas nações menos favorecidas de regiões como América Central, África e Ásia podem depender de acordos de compra e distribuição que podem atrasar a imunização de suas populações e impulsionar o marcado paralelo.

Com informações View From the Wing.

Fabio Farias
Fabio Farias
Jornalista e curioso por natureza. Passou um terço da vida entre aeroportos e aviões. Segue a aviação e é seguido por ela.

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