Ser motivo de piada em seu próprio país talvez fosse algo que a Boeing não esperava acontecer, mas aconteceu, e de uma maneira nem tão construtiva assim.
A cidade de Mobile, no estado do Alabama, tem como um dos seus principais inquilinos a Airbus, que mantém uma grande planta em plena expansão. Por coincidência, foi ali que também nasceu o primeiro carnaval do país, em 1703, conhecido como “Mardi Gras”.
Apesar do mais famoso “Mardi Gras” da atualidade estar localizado no estado vizinho da Louisiana, mais especificamente na principal cidade, que é Nova Orleans, Mobile não perdeu sua tradição sulista e segue fazendo uma grande parada todos os anos. Mas neste ano houve algo inesperado, pelo menos para as maiores fabricantes de aviões do mundo.
Durante a parada, um grupo de cartunistas chamados de “Comic Cowboys” causou uma grande polêmica ao criticar duramente a Boeing, cuja sede está no longínquo estado de Washington. No passado, o grupo já havia ficado conhecido por atacar políticos como Trump e Obama.
As polêmicas placas
Em uma das placas apresentadas no desfile (a imagem que você viu no início desta matéria) foi escrito: “BOEING, o som que o 737 faz quando atinge o chão”, em alusão à onomatopeia “boing” e aos dois acidentes do 737 MAX que vitimaram mais de 300 pessoas.
Já em outra placa (a que você vê logo acima), que usa a figura de “Rosie, the Riveter”, trabalhadora americana que arregaçava as mangas e se tornou símbolo do poder feminino no grande esforço para manter a economia dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial, estão os dizeres “Ei Boeing, venha até Mobile e veja os aviões que não estão paralisados”, referindo-se à paralisação do MAX desde março do ano passado.
No caso, o icônico cartaz “We Can Do It” foi modificado com a Rosie mostrando o dedo do meio e a inscrição “Airbus” na gola de sua camisa, como se fosse uma trabalhadora da fábrica de Mobile.
Críticas ao antigo CEO da Boeing, Dennis Muilenburg, também não faltaram. O cartaz que você vê na imagem abaixo dizia: “Má notícia: o CEO da Boeing consegue um para-quedas de ouro de $60 milhões. Boa notícia: a Boeing fez o para-quedas”.
Esta última é uma referência ao bônus de performance que Dennis recebeu ao sair da Boeing. No total, ele recebeu $62 milhões de dólares no mesmo dia em que quase 3 mil funcionários de um fornecedor da fabricante de aviões foram demitidos.
Nos EUA, esta bonificação é chamada de para-quedas porque serve como uma aposentadoria (lá, ninguém é obrigado a pagar algum tipo de previdência, então isso pode manter a pessoa até a sua morte).
Airbus responde às placas
Os cartazes do “Mardi Gras” foram divulgados pelo jornalista John Sharp, do portal Alabama.com. Respondendo ao tweet de John, a Airbus se posicionou oficialmente sobre o caso.
“A Airbus está ciente agora destas placas. Este grupo (Comic Cowboys) não é afiliado à Airbus de maneira alguma, e estas mensagens não refletem os valores da Airbus. Nós temos um grande respeito pelos nossos colegas na indústria e nunca endossaríamos ou encorajaríamos mensagens como estas”, dizia o perfil Airbus In The US.
Airbus has been made aware of these signs. This group is not affiliated with Airbus in any way, and their messages do not reflect Airbus values. We have a great deal of respect for our industry colleagues and would never endorse or encourage such messages.
— Airbus in the U.S (@AirbusInTheUS) February 26, 2020
Não se sabe se existe algum funcionário ou alguém próximo da Airbus no grupo Comic Cowboys, mas, pelo histórico dos cartunistas, não seria algo necessário para fazer uma crítica.
