O plano da Boeing que convenceu a TAP a adquirir o trijato 727

ESPECIAL
Voltamos no tempo e mostramos como a Boeing convenceu a TAP Air Portugal a comprar o trijato 727, se tornando assim a primeira europeia a operar uma frota 100% a jato.

Boeing 727 TAP
Boeing 727-100 da TAP © Divulgação

Obtivemos acesso ao estudo de frota da Boeing feito exclusivamente para a TAP Portugal há muitas décadas, detalhando a viabilidade do trijato na linha aérea portuguesa. Este é um documento raro que obtivemos junto a um amigo português. Como o avião foi entregue à TAP em julho de 1965, citaremos os valores sempre em dólares americanos e, entre parênteses, o valor corrigido para os dias atuais, para simples comparação.

Um plano de sete

O plano da Boeing era que o jato fosse empregado principalmente nas rotas europeias da TAP e estimava uma frota de até sete trijatos 727, que seriam entregues entre 1967 e 1972 – e que foi o que acabou ocorrendo.

Conforme destaca a imagem abaixo, as rotas analisadas no estudo incluiam ligações de Lisboa para Porto, Faro, Madeira, Açores, Las Palmas, Madri, Paris, Londres, Frankfurt, Genebra, Copenhague, Bruxelas e de Faro para Londres.

Rotas 727 TAP
Malha de rotas do 727 da TAP planejada pela Boeing

O estudo estimava que, no início da operação em 1967, o custo para se manter quatro 727 seria de US$7,4 milhões de dólares (US$ 60 mi hoje) e que em 1972 seria de US$11,7mi (US$ 95mi). Vale lembrar que este valor incluía o investimento para aquisição dos aviões, já que o leasing era praticamente inexistente na época.

O preço de cada 727 oferecido seria de US$ 4,8 milhões (US$ 39 mi) incluindo as modificações e configuração requeridas pela TAP. Cada motor Pratt & Whitney JT8D extra seria disponibilizado ao valor de US$1,25 mi (US$10 mi).

Abaixo, está uma previsão da Boeing de demanda nas rotas ao longo dos anos, detalhados nos estudos:

Além disso, a fabricante previa que cada 727 voasse em média 6,5 horas por dia, totalizando 2.360 horas por ano, aproximadamente. A rota mais longa seria Lisboa – Frankfurt com 5 horas e meia de duração, enquanto que a mais curta era a ligação de Faro para Lisboa, com 53 minutos.

Custos operacionais

Boeing 727 TAP
Boeing 727-200Adv da TAP © Pedro Aragão

Na época do estudo, a União Européia não existia e Portugal tinha como moeda os Escudos. A TAP estimava o custo de 1.240 escudos por hora para pagar a tripulação técnica (dois pilotos e um engenheiro de voo) e 750 escudos / hora para a tripulação comercial (cinco comissários). Isso totalizava 1.990 escudos, o equivalente a US$ 68,78 dólares na época (US$561).

Vale lembrar que o 727 foi um dos últimos aviões produzidos que precisavam de um engenheiro de voo a bordo, cargo que foi abolido com a automação dos sistemas das aeronaves.

Frequências e taxa de utilização das aeronaves previstas para 1971 e 1972

Já o custo de manutenção compreendendo todas as revisões até o chamado “Check D” com 32.800 horas de voo do avião, seria de US$74 (US$604) por hora incluindo manutenções de motores e compra de peças. Sendo assim, o custo total por hora de voo, sem contar as taxas de pouso (que variam de aeroporto para aeroporto), ficaria na casa de US$144 (US$1.175).

Considerando as taxas aeroportuárias, gasto com combustível, depreciação e seguros a Boeing chegou a alguns valores interessantes para algumas rotas, veja abaixo:

Custo de combustível e handling em alguns aeroportos da Europa em 1967

A rota Lisboa – Londres teria o custo de US$1.823 (US$14.885) por voo e a ponte Lisboa – Porto de US$434 (US$3.543) por voo realizado. Ambos os custos estimados no plano de negócios datado de 1967 para o Boeing 727-100. O estudo da Boeing, porém, não fala quanto seria o lucro estimado da TAP com os novos aviões.

Quantos foram os 727 da TAP

No final a TAP chegou a operar 16 desses clássicos trijatos em sua história, incluindo as versões 100 e 200, sendo substituídos mais tarde, nos anos 80 pelo 737-200.

Foi uma época de sucesso para empresa, mas que infelizmente também ficou marcada por um trágico acidente da Ilha da Madeira, quando um Boeing 727-200 se acidentou após uma tentativa de pouso com fortes ventos, vitimando 131 pessoas (veja abaixo um vídeo sobre esse caso).

Agradecemos ao amigo Luís Vaz que nos disponibilizou este material histórico

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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