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O que é esperado do piloto caso haja suspeita de bomba a bordo do avião

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Há duas semanas, o mundo ficou surpreso ao saber da história do voo FR-4978 da Ryanair, que seguia de Atenas para Vilnius, mas acabou alternando para Minsk, após uma falsa ameaça de bomba chegar até os pilotos através do controlador de tráfego aéreo da Bielorrússia. Segundo a transcrição da conversa entre o piloto e o controlador, o último alegava que o voo era alvo de uma ameaça terrorista.

O controlador ainda afirmou que, segundo as informações recebidas, a bomba explodiria quando o avião estivesse sobrevoando a capital da Lituânia, e que, portanto, o voo precisaria ser desviado para Minsk a fim de realizar uma inspeção. No final, tudo se provou falso e apenas um pretexto para prender um oposicionista do regime bielorrusso.

Nos dias que se seguiram, houve uma série de comentários contrários e favoráveis à decisão dos pilotos do voo da Ryanair, que desviaram seu avião a um local muito mais distante do que “deveriam”.

Usando recursos do Eurocontrol, verificamos qual é o protocolo esperado dos pilotos, do ponto de vista do controlador de tráfego aéreo, caso exista uma ameaça de bomba.

O que diz o protocolo

A principal orientação aos controladores da zona do euro, vista abaixo em um documento do EUROCONTROL, é que eles devem esperar que os pilotos declarem emergência e tomem suas decisões, que incluem um pouso no aeroporto mais próximo possível, capaz de receber o modelo de aeronave.

O documento europeu está em linha com os procedimentos da Organização de Aviação Civil Internacional e prevê que, quando uma ameaça de bomba existe, os controladores são solicitados a “atender prontamente às solicitações ou necessidades da aeronave” e isso inclui solicitações de informações sobre os destinos de pouso seguros disponíveis. A orientação é deixar a escolha sempre à cargo do piloto, sendo o controlador um facilitador no processo

Uma exceção a essa regra, e que permitiria a um país reivindicar a soberania de seu espaço aéreo, ordenando o pouso de uma aeronave comercial, acontece nos casos em que há ameaça para a segurança nacional, o que não era o caso do voo da Ryanair.

Imagem: Eurocontrol

A partir de uma análise de dados do RadarBox, fica evidente que o aeroporto de Minsk não era o mais próximo da posição onde estava o voo da Ryanair. Na verdade, a capital da Bielorrússia seria apenas a quarta opção de alternativa, considerando outros a existência de outros aeroportos mais próximos, capazes de receber um Boeing 737.

A primeira opção (1) marcada no mapa abaixo era Vilnius, o destino final original do voo FR-4978. Em qualquer circunstância normal era para lá que o piloto levaria sua aeronave. Se, por acaso, Vilnius estivesse fora de serviço, o piloto ainda contaria com Hrodna (2), na própria Bielorrússia, e Kaunas (3), na Lituânia, como segunda e terceira opções.

Somente depois viria Minsk. As distâncias desde onde o avião estava até as referidas cidades são as seguintes:

1. Aeroporto internacional de Vilnius – 73,63 km
2. Aeroporto de Hrodna – 87,53 km
3. Aeroporto internacional de Kaunas – 132,30 km
4. Aeroporto Nacional de Minsk – 184,59 km

Talvez seja por isso e por alguma pressão bielorrussa que os pilotos acabaram alternando Vilnius. Os trechos da conversa entre o piloto e o controlador de tráfego aéreo que vieram à público (liberadas pelo governo da Bielorrússia) mostram um piloto desconfiado com o incidente e que questiona, mais de uma vez, o por quê de voar para Minsk, até que, enfim, cede.

De qualquer maneira, ainda não se tem total certeza de que essa foi toda a conversa, ou se há algo ainda oculto. Sabe-se que a aeronave da Ryanair recebeu escolta de um caça bielorrusso até o pouso.

Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.
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