Em e-mail vazado, oficial canadense sugere que a Boeing retire o MCAS do 737 MAX

Em mais um capítulo da crise envolvendo o 737 MAX da Boeing, um oficial canadense de aviação civil afirma que a única solução para o jato ser certificado de novo no país é retirar o famigerado sistema MCAS.

Boeing 737 MAX Air Canada
Boeing 737 MAX 8 da Air Canada

Esta foi a afirmação escrita pelo Diretor de Integração de Aeronaves e Avaliação de Segurança, Jim Marko, da TCAA – Transport Canada Civil Aviation, equivalente canadense da brasileira ANAC. Inclusive Jim enviou por escrito esta afirmação para a própria ANAC brasileira, além das equivalentes nos EUA e Europa, a FAA e a EASA, respectivamente.

“A única maneira que eu vejo de avançar neste ponto [da certificação], é que o MCAS saia”, afirmou Jim. O motivo de enviar e-mail para seus colegas de outros países é para “ter uma confiança que todas as autoridades poderão dormir à noite, quando o MAX voltar a voar”.

A preocupação de Jim é que os reguladores aceitem o MCAS revisado mesmo que os problemas continuem a aparecer. “Isto me deixa com um nível de preocupação que não posso ficar sentado e deixar passar” conclui o diretor.

No e-mail também foi anexada uma apresentação de Power Point explicando em detalhes sua argumentação e mostrando como a Boeing pode remover o sistema MCAS do MAX. O assunto veio a público após uma pessoa da FAA, que pediu para não ser identificada, passar o conteúdo ao The New York Times.

  • A TCAA disse que a afirmação de Jim Marko não necessariamente é a mesma da agência, e que o e-mail foi compartilhado num meio de profissionais altamente qualificados, exatamente para discutir o tema.
  • A ANAC, por sua vez, afirmou que recebeu o e-mail de Jim e que “está considerando o conteúdo juntamente com os estudos sendo feitos sobre o assunto”.
  • A americana FAA declarou que está em constante discussão com outros órgãos reguladores sobre a situação do MAX, e que o e-mail é uma prova deste debate.
  • A EASA não respondeu o contato do New York Times.

Atualmente existem 37 Boeings 737 MAX canadenses, sendo 24 da Air Canada e 13 da WestJet, a segunda foi fundada pelo brasileiro David Neeleman. Ambas as companhias chegaram a receber apenas a variante MAX 8.

MCAS não é exatamente o culpado

Boeing 737 MAX da Westjet © Divulgação

O sistema MCAS, do inglês Maneuvering Characteristics Augmentation System que significa em português Sistema de Aumento das Caraterísticas de Manobra, foi introduzido no 737 MAX devido aos seus novos motores.

Os motores CFM LEAP são bem maiores que os das gerações anteriores do 737. Com este tamanho maior, o motor acaba por criar uma espécie de “sombra aerodinâmica” sobre a asa quando o avião está em altos ângulos de ataque. Esta sombra impede que o ar continue seguindo o fluxo pela carenagem do motor e permaneça “colado” na asa, diminuindo assim a sustentação da aeronave.

Sem sustentação a aeronave começa a cair, é o chamado estol. Para evitar esta situação desagradável em altos ângulos de ataque, a Boeing desenvolveu o MCAS, que atua de maneira autônoma para evitar que o avião entre em estol.

Só que esse sistema não foi amplamente divulgado para as companhias aéreas e pilotos, e pior: só depende de uma fonte de informação (um detector de ângulo de ataque) para funcionar. E foi exatamente esta fonte que falhou e levou aos dois acidentes fatais do 737 MAX, vitimizando 346 pessoas na Etiópia e na Indonésia.

Desde então o avião foi proibido de voar no mundo todo e a Boeing tem enfrentado severas críticas, juntamente com a FAA, que falhou no processo de certificação da aeronave.

Mas retirar o MCAS ao invés de corrigi-ló ou mudar seu modo de agir, pode levar a situação indesejada de estol que a Boeing tanto evitou. A expectativa do mercado é que o avião seja certificado novamente ainda no primeiro trimestre de 2020, mas ninguém quer apontar uma data exata.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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