Poderia o avião derrubado estar voando numa rota indevida, como disse o Irã?

Para colocar em contexto, durante a coletiva de imprensa o general de brigada Amirali Hajizadeh exibiu um diagrama mostrando porque o operador de defesa aérea acreditou que o avião Boeing 737-800 que fazia o voo PS752 da Ukraine International era um míssil que entrava na rota de uma base importante da Guarda Revolucionária.

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Amirali Hajizadeh apresenta o diagrama com a trajetória do voo. Em verde a base militar.

Segundo o general, o soldado não conseguiu contatar o quartel-general devido a comunicações congestionadas naquele momento e que só teve dez segundos para decidir se deveria ou não abrir fogo. A decisão errada levou à morte de 176 pessoas.

Poderia o avião estar numa rota indevida?

O avião ucraniano não estava numa rota incorreta. Para mostrar isso com mais clareza, fizemos uma análise baseada no plano de voo padrão da rota, bem como usamos um conjunto excelente de dados disponibilizado pelo FR24. Através de uma análise de dados bastante interessante, a plataforma mostrou todas as rotas do voo PS752 ao longo dos últimos dois meses, tanto analisando a trajetória, quanto a altitude. Veja abaixo.

Na análise da altitude, nota-se que o voo da Ukraine Airlines do fatídico dia 8 de janeiro (em vermelho) segue uma razão de subida inferior aos demais voos registrados. Ainda assim, a taxa de subida não dista demasiadamente dos outros voos registrados no período. Quando foi atingido, o Boeing 737-800 estava a cerca de 7.900 pés de altitude (~2.600 metros).

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A maior diferença, porém, poderia estar na análise do trajeto.

Note que a maioria dos voos nessa rota seguem uma linha reta após a decolagem, enquanto uma menor parte das operações curva à direita antes disso. Embora haja essa diferença, o trágico voo seguiu um rumo totalmente compatível com o padrão de decolagem daquele aeroporto.

E falando padrões de decolagem, o aeroporto de Teerã possui vários, dependendo da rota da aeronave. No caso, os voos da Ukraine International Airlines seguem o procedimento de subida PAROT, que tem fim na intersecção de mesmo nome (veja na carta de navegação abaixo). Essa intersecção dá acesso à aerovia que segue na direção da Turquia.

Agora veja com calma a carta acima. Observe a saída PAROT3G. Ela pede que o piloto siga em linha reta após a decolagem até uma distância de 17 milhas náuticas do aeroporto (VOR IKA) para então iniciar uma curva à direita na direção de PAROT.

Por outro lado, as saídas PAROT2H e 2L, preveem uma curva logo depois de decolar (círculo azul) para interceptar a radial 305 de IKA, e então seguir direto para PAROT. Essa é a razão porque o voo derrubado curvou antes da maioria dos demais voos na rota. E isso é completamente normal, sempre coordenado com o controlador de tráfego aéreo.

Além de seguir todo o procedimento corretamente, o voo ainda estava emitindo sinais de transponder e podia, inclusive, ser visto em aplicativos de rastreamento de voos. Portanto, esse erro foi dos mais primários que poderiam acontecer – assumindo que foi um erro ‘de fato’.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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