Por que a Etiópia baniu qualquer sobrevoo de uma barragem no Rio Nilo?

A Etiópia, no nordeste da África, baniu todos os voos que passam sobre uma gigantesca barragem hidrelétrica instalada em um dos afluentes do Rio Nilo. A medida visa garantir a segurança do empreendimento, que ainda não foi inaugurado.

A Grande Barragem Renascentista Etíope é uma das mais importantes obras de infraestrutura tocada pelo Governo do país. A nova hidrelétrica tem a proposta de gerar energia não apenas para a população do país, mas também fazer da Etiópia o maior exportador de energia elétrica do continente.

De acordo com a agência Reuters, a barragem está no centro de uma crise diplomática da Etiópia com os países vizinhos. Isso porque Egito e Sudão dependem do Rio Nilo como principal fonte de seu suprimento de água e o represamento causado pela estrutura pode comprometer o abastecimento desses países. O governo de Addis Abeba nega que a obra vá causar prejuízos. A União Africana (UA) mediou rodadas de negociações entre a Etiópia, Sudão e Egito, que terminaram em agosto sem grandes avanços.

O enchimento da barragem deve ser iniciado em breve, sem um acordo com os dois países, e a geração de energia em larga escala está prevista para daqui a 12 meses. O diretor-geral da Autoridade de Aviação Civil da Etiópia, Wesenyeleh Hunegnaw, disse à Reuters que todos os voos foram proibidos como forma de proteger a barragem contra interferências externas, sem dar mais detalhes sobre os motivos. “A proibição foi imposta após consulta à Força Aérea e outros órgãos governamentais e de segurança relevantes”, disse.

Catarata do Nilo Azul, próximo ao local onde está a grande barragem. IMAGEM: Armin Hamm via Wikimedia.

O chefe da autoridade de aviação civil da Etiópia informou à rede britânica BBC na segunda-feira (5) que é comum o país proibir voos acima de grandes projetos. “Essas restrições são comuns para garantir a segurança de um país”, disse Wosenyeleh.

Contra-ataques

Na semana passada, o chefe da Força Aérea Etíope, Major General Yilma Merdasa, disse à mídia local que a Etiópia estava totalmente preparada para defender a barragem de qualquer ataque. Segundo a rede BBC, Merdasa declarou em entrevista à TV estatal do país que as forças militares tinham “um plano A, um plano B, e assim por diante, sobre como enfrentar um inimigo que, consciente ou inconscientemente, tentasse inviabilizar este projeto”.

O portal All Africa, noticiou que Merdasa disse que o exército está totalmente preparado para impedir qualquer ataque inimigo contra a barragem do Nilo. “A Força Aérea está armada com caças e jatos de patrulha que podem permanecer no ar por mais de quatro horas para defender qualquer ação inimiga. Estamos fornecendo vigilância 24 horas por dia no espaço aéreo do país e, particularmente, à Barragem Renascentista”, declarou. “Qualquer ameaça de ataque aéreo contra a barragem não é uma preocupação para a Etiópia”, finaliza o militar.

Os Estados Unidos decidiram em setembro cortar US$ 100 milhões em ajuda à Etiópia devido às disputas pela barragem. Um funcionário do Departamento de Estado dos EUA disse à Reuters que a decisão de interromper alguns fundos para a Etiópia foi desencadeada pela preocupação com a decisão unilateral da do país de começar a encher a barragem antes de um acordo.

Fabio Farias
Fabio Farias
Jornalista e curioso por natureza. Passou um terço da vida entre aeroportos e aviões. Segue a aviação e é seguido por ela.

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