Por que a Qatar Airways voa diariamente entre Sydney e Canberra com um A350 vazio?

A Qatar Airways opera um voo diário com Airbus A350-1000 entre Sydney e Canberra, que tem apenas 12% dos assentos ocupados, em média. Apesar disso, a Qatar considera essa rota muito estratégica. Entenda o porquê.

Qatar

Os números foram levantados pelo Australian Aviation com base em estatísticas do Bureau de Infraestrutura, Transporte e Economia Regional do governo australiano.

Segundo esses números oficiais, apenas 29.187 passageiros usaram o serviço da Qatar para Canberra no primeiro ano de operação, entre julho de 2018 e junho de 2019, contra um total de 260.000 assentos oferecidos na rota (considerando ida e volta e, claro, desprezando os passageiros que descem e sobem em Sydney).

Os locais adoram o voo

A Qatar opera diariamente a rota Doha – Sydney – Canberra com o A350-1000, mas não tem direito de vender bilhetes para o voo doméstico ligando a principal cidade australiana com sua pequena capital. Portanto, todos os passageiros que chegam ou saem de Canberra estão vindo ou indo para Doha, no Catar.

Os passageiros locais adoram a ideia de pegar um voo como esse a partir do “pequeno” aeroporto de Canberra. Imagine uma situação em que você não precisa mais pegar seu carro, rodar 153 km para chegar a Sydney, além de poder fazer o check-in em 5 minutos para embarcar numa das principais empresas aéreas do mundo. Certamente, há um rol de benefícios para os cidadãos.

Tela do FR24 mostra a rota do curto voo da Qatar

Dito isto, muitos desses poucos passageiros são elogiosos pela experiência indolor de chegada e partida de Canberra.

Mas a Qatar tem seus motivos

A Qatar Airways está atualmente limitada por um acordo bilateral firmado entre a Austrália e o Catar a apenas 21 voos por semana para os grandes aeroportos da Austrália, que são Sydney, Melbourne, Brisbane e Perth. Atualmente, a empresa aérea árabe já tem essa quantidade de voos, somadas as frequências diárias para Sydney, Melbourne e Perth (e é por isso que ela não voa para Brisbane).

Mas existe um espaço no acordo que permite à empresa voar mais vezes para a Austrália, desde que opere num aeroporto regional. E Camberra, é claro, é classificado como um aeroporto regional. Segundo esse termo do acordo bilateral, esses voos podem ser feitos com uma escala em um dos grandes aeroportos citados acima.

Pronto, era tudo o que a Qatar precisava. Ela se aproveita dessa espécie de brecha no acordo para poder contorná-lo e acrescentar um segundo voo diário para Sydney, com a penalidade de ter que voar uma curta distância até Canberra com o avião vazio. Certamente, esse custo já está embutido no valor da passagem de quem viaja para Sydney.

Como resultado, Sydney recebe um A380 e um A350-1000 da Qatar por dia, sendo que o último continua a Canberra. Mas a Qatar Airways observa que os serviços para cidades secundárias levam algum tempo para serem viabilizados. O gerente sênior da empresa aérea para Australásia, Adam Radwanski, disse:

“Todo novo destino que lançamos, especialmente para cidades secundárias, requer um pouco de tempo e investimento na rota antes de se tornar realmente bem-sucedida. Canberra tem muito a oferecer. Só temos que trabalhar com as autoridades para divulgar o destino. Estou certo de que podemos fazê-lo funcionar”.

Mas, para ser sincero, é uma grande jogada da Qatar, empresa muito apreciada na Austrália, e cujas taxas de ocupação são superiores a 90% em média.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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