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Por que a queda brutal do petróleo é a última coisa que Boeing e Airbus precisam?

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ANÁLISE
É como se uma tempestade perfeita estivesse se formando para o setor aéreo. Mas não acaba aí, de repente, os preços do petróleo tombam a patamares históricos.

Uma pandemia de um vírus altamente infeccioso chega e causa o caos, levando a uma onda de cancelamentos de viagens e fechamento de fronteiras que deixa dezenas de milhares de aviões no chão. As empresas aéreas, que já não vinham bem das pernas, passam a flertar com a ameaça de falência após verem seus caixas derreterem, enquanto a economia global parece rumar para uma recessão.

Então, para somar a isso tudo, pela primeira vez na história, o excesso de oferta do petróleo leva os contratos a um valor negativo. Isso significa que, quem encomendou petróleo nesta segunda-feira, 20, para entrega em maio, ao invés de pagar, recebeu US$ 40 dólares por barril do produto bruto. Isso apenas sacramenta um movimento que já pode ser visto há semanas, pois, desde que a demanda mundial caiu drasticamente, os produtores não estão conseguindo desovar seu estoque e têm fechado contratos a preços menores, dia após dia – somado ao fato do aumento na produção da Rússia e Arábia Saudita, que nem vamos entrar no mérito por aqui.

Enquanto isso, as duas maiores fabricantes de aviões do mundo, Boeing e Airbus, junto com as produtoras dos motores, que investiram bilhões de dólares nas últimas décadas para o desenvolvimento de novas tecnologias que trazem mais economia para as empresas aéreas, a fim de cortar outros milhões em combustível, veem seu principal argumento de venda não fazendo mais o mesmo efeito.

Sem caixa e com combustível mais barato

A verdade é que o corte no custo com combustível sempre foi o principal argumento de venda das fabricantes e garantiu seu poder de sedução sobre as companhias aéreas mundo afora. Desta forma, a queda brutal no preço do combustível vem como um alívio para as empresas aéreas, que veem um corte de custos inesperado e podem reorganizar suas prioridades, sobretudo num momento em que não se sabe quando a demanda voltará ao normal.

Imagem: Boeing

Principalmente essas mesmas aéreas estão lutando pela vida, quase sem caixa e se endividando enormemente, ao passo em que renegociam contratos de leasing e outros custos fixos, aumentando seus compromissos de longo prazo, sem saber quando a demanda voltará ao normal.

Juntando-se as variáveis: recuperação lenta, menos voos, combustível mais barato, significa que as empresas não precisam pensar em adquirir novas aeronaves nesse momento, ainda que isso signifique uma nova redução de custos por esses novos aviões serem mais eficientes.

Isso por que, talvez seja arriscado envolver-se num endividamento extra num momento incerto, sem levar em consideração o fato de que muitas empresas voltarão menores da crise, e haverá muitos aviões novos à disposição por preços muito baixos.

Somente nos últimos três meses, mais de 500 pedidos já foram cancelados, quando somadas as duas maiores fabricantes, sendo que o impacto para a Boeing foi muito maior até agora, com mais de 400 cancelamentos. Analistas de mercado estimam que esse número passará de 1.000 já nas próximas semanas com a queda do petróleo.

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Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.
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