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Por que esse jato da Embraer com menos de 1.000h de voo foi para o ferro-velho?

Nas últimas semanas, surgiram imagens de dois aviões diferentes sendo enviados para o ferro-velho, provocando uma resposta emocional significativa. Um deles foi o A380 ex-Singapore Airlines, o outro é um Embraer Lineage 1000E de US$ 49 milhões, que mal voou, sobre o qual falaremos agora.

Foto de Ryan Spellman

Por que se desfazer um avião perfeitamente bom? 

Inicialmente, é importante entender que, nesses dois casos, o raciocínio foi exatamente o mesmo: o fim da linha de produção para os tipos e os desafios da reciclagem de componentes de aeronaves, especialmente com os novos materiais sintéticos envolvidos.

Que Embraer é esse?

Esse jato que você viu na foto acima é um Embraer Lineage 1000E, uma variante executiva do jato regional E190-E1, cuja montagem e entrega foram concluídos em maio de 2017, mas que nunca encontrou um lugar no mercado após ter servido como aeronave de demonstração da Embraer. Mesmo assim, ele parece não ter voado muito durante seus 2,5 anos de vida.

Voando com o registro N727EE, o serviço principal do avião parece ter sido uma viagem à EBACE 2019 (uma feira de aviação executiva europeia), incluindo um voo sem escalas de Melbourne, Flórida, para Farnborough, Reino Unido. Depois disso, o avião passou pela Espanha, Suíça e França antes de ficar ocioso, exceto por uma rápida viagem a St. Maarten durante o verão no hemisfério norte. Mais recentemente, ele apareceu em uma foto feira em Greenwood, Mississippi, onde será demolido.

Em uma declaração, a Embraer reconheceu que esse avião, junto com outro do mesmo modelo (N726EE), serão usados para prover peças de reposição à frota de Lineage 1000 do mundo, composta por menos de três dezenas de jatos, uma vez que a linha de produção foi encerrada em São José dos Campos, no interior de São Paulo, dando lugar à série E2.

Ainda assim, é sempre impactante ver uma aeronave de US$ 49 milhões ter um destino como esse, mas parece ser a melhor solução, considerando que não houve nenhum cliente e a aeronave já pode ser considerada obsoleta.

Além disso, as peças ainda têm valor e muitas podem ser usadas pelos operadores existentes como reposição.

Fazendo tudo com baixo impacto

A indústria da aviação tem bastante experiência com desmontagem e reciclagem de aeronaves. É muito bom garantir que quaisquer componentes com valor residual cheguem a um novo lar e que a capa de alumínio tenha uma nova vida. 

Mas os aviões mais modernos não são apenas alumínio, há materiais compostos que são difíceis de reciclar, além de conter elementos químicos que podem contaminar o solo ou água, caso não sejam adequadamente descartados.

Para tanto, as fabricantes têm trabalhado para ver esses materiais compósitos reaproveitados nas indústrias de eletrônicos e transporte terrestre. O processo exige que o material seja esquentado a uma temperatura alta o suficiente para derreter a resina que mantém o compósito unido, deixando para trás o material limpo. Não é eficiente em termos de energia, mas provavelmente é melhor do que apenas despejar os pedaços em um aterro qualquer.

Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.