Por que o avião presidencial venezuelano foi camuflado com as cores da Conviasa?

Presidencial
FAV0001 flagrado com a pintura da Conviasa – Autor desconhecido

Parece que não há limites para as surpresas que a aviação venezuelana nos proporciona dia após dia. Por estar mergulhada num regime ditatorial e envolta em sanções, vários setores da economia agonizam, inclusive a aviação. Enquanto isso, o governo local tem usado de criatividade para se virar para fazer negócios com países e empresas de lugares muito distantes.

Durante a viagem de Nicolás Maduro e sua comitiva à cidade de Baku, no Azerbaijão, para a “Cúpula dos Países Desalinhados” (seja lá o que for isso), uma novidade pode ser observada no avião presidencial venezuelano. Sem nenhuma comunicação oficial e à ignorância do povo, o Airbus A319 ACJ, em configuração VIP, foi transformado num jato comercial comum, como que num verdadeiro disfarce.

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Pintura original do FAV0001 – foto de Guillaume Berthon via Flickr

Convenhamos que é difícil esconder um avião por muito tempo e uma foto feita no Azerbaijão já caiu na internet. Nessa metamorfose, pode-se notar que os dizeres “Republica Bolivariana” e o registro FAV0001 do avião presidencial dão lugar à pintura completa da empresa aérea estatal Conviasa e ao prefixo YV-2984, típico de um avião civil.

É como se Donald Trump resolvesse pintar o Air Force One com as cores da American Airlines, por exemplo.

Em 2014, Maduro quis dar o avião à Conviasa

Em agosto de 2014, o ditador Nicolás Maduro quis ceder a aeronave de 18 anos à empresa aérea estatal. Na época, durante um discurso numa reunião de prefeitos e governadores regionais, Maduro disse: “Entreguei o Airbus presidencial à Conviasa para reforçar sua frota até que mais aeronaves sejam adquiridas para otimizar os serviços da companhia aérea”.

Não precisa nem dizer que a ideia não deu certo, já que opositores não aceitaram a ideia de ceder um bem do povo a uma empresa, ainda que estatal. Alguns meses depois, em janeiro de 2015, o avião voltou a pertencer à presidência. No entanto, ao pintar com as cores da Conviasa nesse mês de outubro, parece que Maduro permanece firme no intento de querer mostrar que o avião pertence mesmo à empresa aérea.

No histórico do FR24 consta o voo de retorno do Azerbaijão com parada na Turquia

Camuflagem de operações aéreas

Disfarçar aeronaves presidenciais como comerciais não é nenhuma novidade na Venezuela, que já fez isso com um Embraer Lineage 1000 e um Boeing 737-200, durante os governos de Chavez e Maduro. Coincidência ou não, essa é uma prática de outros governos, como o cubano. Veja no Tweet abaixo, Maduro sendo entrevistado em frente ao A319 após chegar ao Azerbaijão, na semana passada.

Ser pintado nas cores da Conviasa não implica que ele será adicionado às suas operações, pelo contrário, pode ser feito dessa forma para camuflar as reais intenções do voo aos olhos que não estão cientes das características de cada aeronave. Dessa forma, ele pode continuar sendo usado em viagens não-comerciais, mas passa despercebido no meio das operações aeroportuárias no exterior, bem como não é impedido de voar em países que proíbam o sobrevoo de um avião militar venezuelano.

Além disso, por ser facilmente confundido com um A319 comum, usado em voos comerciais, é possível que o governo ‘venda’ a seu povo a ideia de que trata-se uma operação da companhia aérea e não um voo totalmente VIP, embora hoje a informação esteja disponível a todos e uma simples consulta na internet já deixa claro que a aeronave não tem operado em rotas comerciais da Conviasa.

https://aeroin.net/video-impactante-do-cemiterio-de-avioes-em-maiquetia-na-venezuela/
https://aeroin.net/eua-rejeitam-venezuelana-transcarga-liberacao-voos/
https://aeroin.net/governo-venezuelano-destaca-aeronautica-receber-a380/
Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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