Por que os voos polares são tão importantes para a aviação?

A Scandinavian Airlines (SAS) foi a 1ª companhia aérea a operar uma rota regular sobre o Polo Norte

Em um planeta redondo, voos sobre os polos são fundamentais para encurtar distâncias e economizar combustível em viagens de longa distância. No entanto, procedimentos específicos são necessários para garantir a operabilidade dessas rotas.

Devido às características geográficas do planeta, em que os continentes do hemisfério norte estão mais próximos da extremidade polar, voos entre América do Norte e Ásia são os que mais adotam essa alternativa. Assim, o Polo Norte acaba tornando-se uma rota extremamente atrativa para voos longos com menos paradas e mais conforto para os passageiros – e, obviamente, economia para as companhias.

A Emirates Airlines, por exemplo, voa em rotas polares sem escalas entre Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e São Francisco, Seattle e Los Angeles, nos Estados Unidos. Em 15 de agosto de 2019, a Air India iniciou um voo sobre o Polo Norte sem escalas, entre Nova Deli e São Francisco, distância superior a 12 mil quilômetros em linha reta. Muitas outras empresas fazem o mesmo.

Por sua vez, atualmente não existem voos regulares sobre a Antártica, embora a rota fosse viável para viagens entre Chile, Argentina, África do Sul e países como Austrália e Nova Zelândia. No entanto, a distância entre os continentes ou cidades inibe tais voos.

Hoje, a rota regular mais austral do planeta é operada pela Qantas entre Santiago do Chile e Sidney, na Austrália, mas não chega a entrar oficialmente no espaço aéreo do Polo Sul.

Precauções

No entanto, não basta uma simples mudança no plano de voo para que o avião possa voar nos polos. Em março de 2001, a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA, na sigla em inglês) publicou um Guia Técnico para Operações Polares, que listava uma série de requisitos para rotas sobre o círculo ártico. As normas obrigam a utilização de equipamentos especiais de comunicação, o constante monitoramento de congelamento de combustível e até a presença de trajes especiais para frio extremo.

O risco de congelamento do combustível é real. A depender do querosene de aviação (QAV) utilizado, o combustível pode congelar ao atingir temperaturas entre -40 a -50 °C . Embora essas temperaturas sejam frequentemente encontradas na altitude de cruzeiro, o combustível costuma manter sua temperatura nos tanques por um bom tempo. No entanto, o estudo da FAA indica que durante longos voos polares, esse tempo diminui e o QAV pode atingir seu ponto de congelamento, o que requer cuidados redobrados.

Exemplo de rota entre São Francisco e Londres, operada com companhias como Pan Am e TWA. via GCMaps

História

A primeira rota comercial polar foi operada a partir de novembro de 1954 pela Scandinavian Airlines (SAS), a companhia aérea de bandeira da Dinamarca, Noruega e Suécia. A empresa voava de Los Angeles, nos EUA, a Copenhagen, na Dinamarca, com paradas para reabastecimento em Winnipeg, no Canadá, e Sondre Stromfjord, na Groenlândia.

Em 1957, a Pan Am e a TWA iniciaram rotas polares de Los Angeles e São Francisco para Paris e Londres. Naquele mesmo ano, a SAS inaugurou uma rota para Tóquio com uma parada para abastecimento em Anchorage, no estado do Alasca, EUA. Em poucos anos, a cidade estadunidense se tornou em referência  para uma série de companhias aéreas que voavam entre a Europa e a Ásia. British Airways, Air France, Japan Air Lines, KLM, Lufthansa e SAS fizeram escalas ali após cortarem caminho pelo Polo Norte. A companhia aérea finlandesa Finnair foi a primeira operar uma rota comercial sem escalas sobre o Ártico, em 1983, conectando Helsinque e Tóquio.

Fabio Farias
Fabio Farias
Jornalista e curioso por natureza. Passou um terço da vida entre aeroportos e aviões. Segue a aviação e é seguido por ela.

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