Por que três Boeing 737 noruegueses pousaram em Natal ao mesmo tempo?

De curta duração, a filial argentina da Norwegian Air não sobreviveu a uma grave crise, desde antes da pandemia. Agora, após muita luta, faz devolução dos jatos Boeing 737.

Divulgação – Norwegian

A empresa low-cost surgiu com a abertura de mercado promovida pelo governo de Maurício Macri, em 2017, momento em que o país também viu o surgimento da Flybondi, JetSmart Argentina e Avianca Argentina. Tanto a Avianca quanto a Norwegian não suportaram as oscilações da economia argentina, além dos problemas que afetaram suas matrizes.

A Norwegian Air Argentina contou com apenas quatro jatos Boeing 737-800 em sua frota, sendo que um já foi devolvido. E ontem (5), pousaram em Natal, após saírem de Buenos Aires, os outros três jatos, de matrículas LV-IQZ, LV-ITK e LV-HQH. De Natal, os jatos seguiram para Las Palmas, nas Ilhas Canárias, para depois irem para a Europa continental.

Inicialmente os jatos seguirão para a matriz Norwegian Air, mas rumores apontam que eles também podem ser repassados para a britânica Jet2 (a confirmar).

Trajetória do voo de devolução do LV-IQZ – RadarBox

Seguindo a tradição da empresa norueguesa, os jatos estão respectivamente com as imagens de pessoas argentinas conhecidas: Santiago Ramón y Cajal, Benito Pérez Galdós e Astor Piazzolla.

Suor para mandar os aviões embora

No começo de dezembro de 2019, a JetSmart comprou as operações da Norwegian Air Argentina e, pouco tempo depois, decidiu trocar os aviões da Norwegian por próprios, mas o Governo deu uma canseira.

O acordo de venda, firmado nos últimos dias do governo Macri, incluía um detalhe básico: a JetSmart teria que retornar à empresa-mãe da Norwegian os três aviões que a filial argentina ainda possuía, para substituí-los gradualmente por seus próprios aviões. Esse processo é completamente normal e, dessa forma, os passageiros que haviam comprado passagens da Norwegian na Argentina começariam a voar em aviões JetSmart com o tempo.

Essa primeira substituição de aeronaves deveria ter acontecido em março 2020, mas isso não aconteceu. Ao contrário, o avião continuou voando na argentina.

Burocracias

Sucedeu que as recém empossadas autoridades da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) da Argentina não aceitaram o acordo entre as duas empresas e argumentam que a troca de aviões seria apenas um acordo entre elas e que não havia autorização oficial para tal. Ato contínuo, o governo passou a exigir que a JetSmart apresentasse uma série de certificações adicionais.

A ANAC emitiu uma declaração da seguinte maneira: “O Certificado de Operador de Serviços Aéreos, concedido pela ANAC às empresas que exploram comercialmente o transporte aéreo deve ser alterado, pois este documento contém as características das operações que podem ser realizadas. Fazer a compra de uma empresa não significa que as autorizações da outra empresa sejam transferidas para você. O Certificado de Operador deve ser alterado para poder operar”, reiteraram.

Parecia uma burocracia sem fundamento, no entanto, fontes do governo disseram ao Clarín que o problema era mais complexo e, seguindo as novas diretrizes do governo, a ANAC estaria reavaliando a viabilidade de autorizar a fusão de empresas vis-à-vis o interesse público em tal ação.

No meio disso tudo, veio a pandemia, a Norwegian passou por uma crise enorme, que acabou atrasando ainda mais os planos de reaver as aeronaves, enfim concluído agora.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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