Por que um Boeing 737 teve que passar pelo Ártico para ir do Brasil à França?

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Boeing 737 Connect Cargo
Foto MyFlightBook / Divulgação / AEROIN

Um Boeing 737 que pertencia à brasileira Connect Cargo foi transladado do Brasil para França, mas precisou passar pelo Ártico, entenda o porquê.

A Connect Cargo foi uma empresa aérea cargueira baseada em Recife que teve pouco tempo de vida: foram ao todo oito meses entre a inauguração e a retomada dos aviões por falta de pagamento.

A empresa tinha a ambição de até trazer um Boeing 747 para operações no Brasil, mas ficou limitada a seus dois Boeings 737-400SF, que eram de passageiros e foram convertidos para cargueiros.

Cockpit do 737-400SF © JetTest

Batizados de Turdus (PR-CNC) e Phalkön (PR-CND), os jatos voaram relativamente pouco em rotas domésticas, até seguirem para São José dos Campos, de onde seriam devolvidos após uma breve manutenção.

A peregrinação do Turdus e do Phalkön

Aeronave durante o traslado © Jet Test

A programação previa que as aeronaves voltassem para Montpellier, cidade no sul da França, onde estavam estocados antes de virem para a Connect Cargo. A rota lógica para lá seria sobrevoando o centro do Oceano Atlântico, fazendo uma parada em alguma ilha africana como Cabo Verde ou mesmo nas Canárias. Mas, ao invés disso, o Turdus voou por Manaus, Caribe, EUA e Islândia, passando pelo Oceano Ártico, antes de chegar na França.

Segundo a Jet Test and Transport, empresa responsável pelo translado da aeronave, o rádio HF da aeronave não estava funcionado, logo não seria possível estabelecer comunicação enquanto atravessava o Atlântico, residindo aí a inviabilidade de colocar a aeronave para cruzar o mar.

O rádio de HF (Alta Frequência em inglês) opera entre as frequências 3 e 30 MHz, e reflete na ionosfera, tendo maior alcance porqu fica “rebatendo” entre a terra e a ionosfera.

Operando apenas com os rádios VHF (Frequência Muito Alta), o mesmo não teria alcance para se comunicar com o controle de tráfego aéreo do Brasil ou de Dacar (responsável pela área que a aeronave sobrevoaria quando entrasse no espaço aéreo africano).

Imagem: GCMap

Sendo assim a única opção foi tomar outra rota, muito mais longa, porém dentro do alcance dos rádios VHF, o que só era possível passando pelo Oceano Ártico.

Com isso, o jato percorreu 14.572 quilômetros na rota São José dos Campos – Manaus – San Juan (Porto Rico) – Portsmouth (Nova Hampshire – EUA) – Reykjavík (Islândia) – Montpellier (França).

São 5.586 quilômetros a mais do que se a rota fosse feita via Natal e Las Palmas (Canárias), que totalizariam 8.986 quilômetros até a França. Uma rota muito mais longa porém necessária.

Segundo a Jet Test, nas próximas semanas o outro jato, o Phalkön, fará a mesma rota sendo possível acompanhar por aqui. Para ver o playback da rota do Turdus clique aqui.

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Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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