Portugal quer vingança contra a Ryanair por ‘atrapalhar a ajuda à TAP’

Em meados de maio, a Ryanair comemorou a decisão do tribunal da UE de suspender os 1,2 bilhões de euros em auxílios estatais portugueses à TAP, por entender que eles podem infringir as leis de concorrência da União Europeia. A Ryanair argumentou que a ajuda foi anticoncorrencial e recompensa a ineficiência.

O governo português se irritou e a conversa esquentou.

A resposta portuguesa

Como resposta, o Ministro das Infraestruturas e Habitação de Portugal, Pedro Nuno Santos, acusou a Ryanair de se intrometer nos assuntos internos do país e de atacar sistematicamente a TAP para ganhar participação de mercado. 

Além disso, Santos advertiu a Ryanair para não esperar qualquer cooperação do Estado português a partir de agora e aconselhou-a a respeitar as leis laborais do país no que diz respeito ao emprego de pilotos e tripulações locais. Ele ainda acusou a Ryanair de oportunismo comercial.

Ironia irlandesa

O CEO do Grupo Ryanair, Michael O’Leary, rejeitou as alegações e ironizou, recomendando que Santos “deixe de desperdiçar dinheiro dos contribuintes portugueses na TAP e a invista em infraestruturas”. 

“A prioridade imediata deveria ser a abertura do novo aeroporto de Lisboa, onde a Ryanair pudesse levar cinco milhões de passageiros e criar mais de 5.000 novos empregos muito bem pagos. Condenamos as falsas alegações nos últimos dias de que a Ryanair está travando uma guerra comercial quando isso é chamado de competição. 

Também rejeitamos as suas falsas alegações de que a Ryanair pratica ‘dumping social’ quando pagamos à nossa tripulação de cabine mais do que o dobro do que o seu governo paga a enfermeiras e professores portugueses num ano”, concluiu O’Leary.

Briga de recursos

Portugal marca seu território: “O investimento na TAP é estratégico e estruturante, não só na companhia aérea mas na economia portuguesa. A razão disso é que o impacto da TAP na economia nacional é muito superior ao resultado líquido da empresa. A TAP garante, num ano normal, 3 bilhões de euros em exportações para Portugal, 1,3 bilhão de euros em receita a mais de mil empresas em todo o território nacional. É a empresa que mais transporta passageiros de e para Portugal e é, além de tudo isto, uma empresa essencial para melhorar a conectividade entre Portugal e a UE e o resto do mundo”, afirmou Santos.

Por sua vez, a Ryanair é um dos maiores investidores estrangeiros em Portugal, tendo colocado mais de 1,5 bilhão de euros em ativos (aeronaves) nas suas quatro bases portuguesas em Lisboa, Porto, Faro e Ponta Delgada. “No verão de 2021, a Ryanair vai operar mais de 120 rotas de e para Portugal. Isso é quase o dobro das 70 rotas oferecidas pela TAP. O ministro Santos não está interessado em discussões sobre infraestrutura. Tudo o que ele quer é subsidiar a TAP e criticar a Ryanair”, disse O’Leary.

O fato é que ainda há bastante coisa para acontecer nessa história.

Carlos Ferreira
Carlos Ferreira
Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.

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