Procuradora do caso do 737 MAX é contratada pelo escritório que defende a Boeing

Mais uma polêmica surgiu em torno do caso dos acidentes do Boeing 737 MAX, com a contratação de uma procuradora pública que agora passa a defender a fabricante.

Foto de Wilco737

Após os acidentes do 737 MAX, um processo foi movido na justiça federal americana por diversas famílias que perderam seus entes queridos nos acidentes na Indonésia e Etiópia. Um acordo com a justiça foi assinado no início deste ano, e a Boeing pagou $2,5 bilhões de dólares em multa por negligências relacionadas ao sistema MCAS do 737, principal responsável pelos acidentes.

Apesar do acordo bilionário e histórico, muitas famílias das vítimas criticaram o fato que os executivos da empresa não foram punidos, assim como nenhum engenheiro ou técnico responsável, sendo a única punição a multa em si.

Agora as críticas aumentaram, sobretudo após o anúncio de que a Procuradora do Norte do Texas, Erin Nealy Cox, foi contratada pelo escritório de advocacia Kirkland & Ellis, o mesmo que defendeu a Boeing no caso do MAX. Erin estava do outro lado da mesa até pouco tempo atrás e saiu da carreira pública logo após o caso da Boeing ter sido fechado.

Ela já vinha sendo criticada desde quando o Departamento de Justiça escolheu uma procuradora do Texas para o caso. Tudo isso porque a Boeing não tem sede no Texas e nem fábricas de aviões comerciais ali, assim como os acidentes ocorreram no exterior, sem nenhum vínculo com aquele estado americano.

De qualquer forma, ela sempre quis passar uma imagem de neutralidade. Erin chegou a comentar no dia que o acordo com a Boeing foi fechado que “as declarações enganosas e omissões da Boeing à FAA impediram que o governo garantisse a segurança dos passageiros. Este caso deve ser uma mensagem clara: o Departamento de Justiça responsabilizará todos os fabricantes por fraudar os reguladores”.

Famílias ainda buscam justiça

No entanto, há gente descontente. Segundo o professor de direito John Coffee da Universidade de Columbia disse ao portal jurídico Corporate Crime Reporter (CCR), o acordo com a Boeing foi falho.

“É algo sem precedentes. Eu nunca vi isso antes e olhei em vários casos de acordo. Os procuradores não fizeram a investigação. Um dos piores acordos que eu já vi. Agora com a chegada da procuradora à equipe de defesa da Boeing sugere que eles estão na mesma sintonia para achar uma solução rápida e gentil para que o caso não prejudique ou cause constrangimento à Boeing”, afirma o professor.

Já Michael Stumo e Nadia Milleron, pais de Samya Stumo, uma jovem de 24 anos que estava entre os passageiros do voo Ethiopian 302, que caiu em março de 2019, vitimando todos os 157 ocupantes, estão indignados com a contratação.

“Foi um juiz complacente que favoreceu a Boeing? Ou foram procuradores complacentes que conheciam o time de defesa da Boeing? Estamos chocados com esta informação (da contratação)”, afirmou o casal.

O CCR entrou em contato com cinco procuradores de outros estados onde a Boeing tem alguma sede ou escritório central, como Illinois e Califórnia, onde também algumas vítimas residiam. Três procuradores não responderam aos questionamentos e pedidos de reabertura do caso. Outros dois responderam, sendo que um afirmou que “infelizmente não tem jurisdição sobre um caso que não aconteceu na minha área, que também não tem sede da Boeing“; e outro afirmou que também não tem jurisdição mas espera que a justiça pela garota seja feita.

Segundo o CCR, apesar de não terem jurisdição sobre o caso, os procuradores podem pedir ao Departamento de Justiça uma reabertura do caso, mas que até agora nada foi feito.

Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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