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Raras imagens mostram o Aeroporto de Los Angeles deserto no 11 de setembro

ESPECIAL – Fazem 19 anos que a aviação enfrentou a sua pior crise antes do coronavírus e imagens inéditas mostram como o Aeroporto de Los Angeles ficou deserto da noite para o dia.

Aeroporto de Los Angeles, sem nenhuma movimentação de voos – Foto de Dan Tracy (cedida)

Era manhã de 11 de setembro de 2001, lembro estar assistindo um episódio de algum desenho na televisão quando a transmissão é interrompida para mostrar algo que mudaria a minha vida, mesmo sem ter nunca voado naquela época: os atentados nos EUA.

A história dos ataques é bem conhecida e amplamente divulgada, incluindo toda a sorte de opiniões a respeito daquele dia, mas o fato é que nunca na história da aviação os Estados Unidos haviam parado todos seus voos, num cenário apocalíptico.

As TVs na época mostravam aviões parados nas taxiways com passageiros dentro, parentes tentando contato com familiares e etc. Mas o foco principal estava na costa leste, onde aconteceram os atentados, embora o país inteiro tenha parado, inclusive na outra costa, onde está a Califórnia.

Vista da rampa principal de acesso do LAX com o Terminal 1 totalmente vazio e o Theme Building no canto direito© Dan Tracy

As fotos que ilustram essa matéria nunca haviam sido divulgadas na mídia, tendo sido compartilhadas apenas recentemente em um grupo do Facebook. Elas são de autoria de Dan Tracy, controlador de tráfego aéreo aposentado do Aeroporto Internacional de Los Angeles, que gentilmente nos cedeu as fotos que representam o momento mais obscuro da aviação americana.

Foi o único dia em que o LAX, que é o código do Aeroporto Internacional de Los Angeles e também é como todas as pessoas chamam o aeroporto, não teve nenhum movimento aéreo.

Visão do antigo Tom Bradley International Terminal, completamente vazio, com o hangar da American ao fundo, lotado © Dan Tracy

Na época, apenas a Varig operava sem escalas entre o LAX e o Brasil, com o voo que se estendia até o Japão e que fez da empresa aérea um símbolo do Brasil no Sul da Califórnia. Infelizmente (ou felizmente) não há registros de aviões da companhia no 11 de setembro no LAX, e Dan não recorda de ter visto um jato brasileiro naquele dia.

Vista do desembarque do Terminal 1 e 2, desérticos © Dan Tracy

O aeroporto, que é conhecido pelo seu congestionamento (igual a cidade que o abriga), ficou sem sequer uma operação de um voo comercial no dia, “0 mesmo”, nem voos internacionais e nem domésticos.

Boeing 747-200 da Kalitta Air Cargo “reinaugurou” as operações cargueiras no LAX © Dan Tracy

A maioria das fotos desta matéria foram tiradas da torre de controle, que fica bem no centro do aeroporto ao lado do icônico The Theme Building, que é um dos símbolos do LAX.

Barreira policial na World Way West, que dá acesso aos hangares de manutenção, no fundo a torre de controle © Dan Tracy

A polícia de Los Angeles e do próprio LAX estava em peso no aeroporto, já que a entrada ficou restrita à funcionários que estivessem indo ao trabalho.

Apenas um voo com destino ou saída de Los Angeles © Dan Tracy

Na tela de radar de Dan apenas um voo estava previsto para vir para Los Angeles no dia seguinte (12), o AA9016 vindo de Dallas e operado por um Boeing 757-200, seria um voo extra. No entanto, quando as operações voltaram, o primeiro voo a pousar no aeroporto foi um cargueiro operado por um Boeing 747-200 da Kalitta Air.

Já outra foto mostra a tela de radar de Nova Iorque, cidade mais atingida pelos ataques. É possível contar sem dificuldade o número de voos no radar. Apenas dois voos comerciais na tela: ambos da British Airways, um de Londres para Baltimore, e outro de Manchester para Nova Iorque.

Tela mostra o radar de Nova Iorque, muitos voos de forças de segurança, apenas dois comerciais © Dan Tracy

Estes dois voos ainda não tinham sido desviados após a decisão de interromper o tráfego aéreo e foram autorizados a seguir até seu destino final, um luxo para aquele dia.

E luxo foi algo que Dan não teve, já que foi proibido parar dentro do estacionamento dos funcionários na torre (que fica na base da estrutura). Assim, ele teve que parar num dos dois estacionamentos permitidos, os edifícios-garagem no centro do aeroporto, que são muito disputados em dias normais, mas que naquele dia estavam tranquilos.

Mesa do Clearence (Autorização) totalmente vazia © Dan Tracy

Ao chegar no trabalho, a mesa do responsável pela frequência de Autorização (é a primeira frequência que os pilotos chamam, pedindo autorização e cópia do plano de voo, também conhecido como Clearance Delivery) estava vazia, nenhuma das barrinhas com dados dos voos estava preenchida.

Vale lembrar que Los Angeles (assim como em toda a costa oeste) foi afetada de maneira indireta pelos ataques. O primeiro avião atingiu a torre às 8h46 em Nova Iorque, no início da manhã de trabalho em Manhattan.

Vista dos hangares de manutenção do aeroporto, incluindo um DC-10 da Hawaiian e três Boeings 747 da Qantas © Dan Tracy

Já em Los Angeles eram 5h46 da manhã, com maioria absoluta dos Angelinos ainda dormindo. Logo quando acordaram e ligaram a TV, o país já estava em choque e parado, fazendo com que muitas pessoas não fossem ao trabalho e, principalmente, ao aeroporto.

Com isso, o LAX não teve aquelas cenas de aeronaves paradas na taxiway, e os voos vindo do Pacífico puderam pousar já que não era possível alternar para o Canadá ou outro país próximo. O pânico em si não chegou na cidade, mas os efeitos sim.

De Embraer Brasília à Boeings 777: todos parados © Dan Tracy

Os voos só começaram a ser regularizados na sexta-feira, três dias depois do atentado. Neste vídeo abaixo da Associated Press, passageiros são atendidos e a segurança reforçada no LAX:

Aquela semana realmente marcou a aviação não só dos EUA, mas global. Além das mudanças e da crise que veio depois, foi o único dia em que um país suspendeu por completo suas operações aéreas. Também foi o dia em que mudanças drásticas começaram a ser implementadas em todo o mundo para aumentar a segurança do transporte aéreo.

Guardadas as proporções e a natureza dos acontecimentos, muitos analistas de mercado veem a pandemia do coronavírus como o “11 de setembro” em termos de saúde pública, e que já tem orientado diversas ações que mudarão a higiene e limpeza a bordo para sempre.

Nosso total agradecimento à Dan Tracy, seus colegas controladores do LAX e do Socal TRACON pelo registro e trabalho feito, e por sempre nos receberem de portas abertas no aeroporto.

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