O incrível recorde do planador rádio-controlado que atingiu inacreditáveis 835 km/h

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O planador sendo lançado para o recorde – Imagem: captura de tela do vídeo que você verá logo abaixo

Em janeiro, um entusiasta de planadores registrou um incrível recorde: ele voou um planador rádio-controlado e, usando um princípio da dinâmica, chegou a uma inacreditável velocidade recorde de 548 milhas por hora (835 km/h), semelhante à dos grandes aviões comerciais de passageiros.

Quando as pessoas pensam em planadores controlados por rádio, a maioria imagina uma estrutura leve, bastante frágil, que se destina a flutuar suavemente com a atividade térmica no ar. Uma atividade muito relaxante e algo que você faz em uma tarde de domingo no parque.

No entanto, o modelo de planador que o recordista Spencer Lisenby utiliza é de natureza muito diferente. Em 19 de janeiro, ele voou o planador na velocidade recorde mundial de 548 mph sem qualquer motor para auxiliar seu voo, e alcançou o feito usando um desdobramento do princípio da “dynamic soaring”, ou ascensão dinâmica, em uma tradução direta.

Antes de entender do que se trata este princípio, veja a seguir o vídeo gravado no dia 19 de janeiro de 2021, quando Lisenby registrou o recorde:

A ascensão dinâmica é a maneira como o vento se comporta quando passa por uma elevação de terreno. Conforme o ar que se move horizontalmente próximo ao solo encontra o aclive da colina, encosta ou montanha, ele é desviado para cima, criando uma componente vertical de sustentação que pode ser usada por planadores para ganho de altitude.

No entanto, Lisenby explicou que essa atividade dos planadores sempre se limitou à parte frontal da colina em relação ao vento. O outro lado do cume sempre teve uma reputação de ventos perigosos que podem destruir aeronaves se elas se desviarem para lá. Isso porque neste lado não há componente vertical no ar, então os planadores perdem altura e são pegos na camada turbulenta gerada pelo topo da colina.

O fluxo de ar ascendente na esquerda e turbulento na direita – Imagem: Bill Read

O potencial de usar os ventos do outro lado de uma encosta foi explorado pela primeira vez na década de 1990 pelo engenheiro, dinamista e entusiasta de planadores rádio-controlados Joe Wurts. Ele estava voando um planador de espuma na Parker Mountain, na Califórnia, quando acidentalmente voou para o lado oposto ao vento da colina, perdeu o controle e mergulhou.

No entanto, Wurts conseguiu recuperar o controle da aeronave e voá-la de volta para cima da colina. Quando a aeronave retornou, Wurts percebeu que ela estava voando muito mais rápido do que o esperado e percebeu que o planador estava sendo afetado de uma forma diferente pela ascensão dinâmica.

Desde então, o princípio da ascensão dinâmica começou a ser usado voando planadores rádio-controlados no lado oposto da subida do vento.

Quando a aeronave está voando mais alto do que o topo da encosta, ela é acelerada pelo vento de cauda. Quando voa abaixo do topo, através da camada de turbulência e no ar mais calmo abaixo, ela perde apenas um pouco da velocidade enquanto inverte a direção de volta para a colina, tendo ainda velocidade suficiente para subir novamente até o topo e encontrar o vento.

Realizando outra volta de 180 graus no topo, coloca-se mais uma vez a favor do vento para acelerar ainda mais rápido e o ciclo começa novamente. Se não houvesse resistência do vento na aeronave, ela continuaria a acelerar infinitamente, mas sua velocidade máxima é limitada pelo arrasto.

Imagem: Bill Read

Ao tentar voar em velocidades tão altas, não é possível usar um planador rádio-controlado comum, que rapidamente se quebraria. Tentativas anteriores de voar cada vez mais rápido se depararam com as tensões impostas e muitas vezes se desintegraram no ar, devido à flexão da longarina da asa como resultado do excesso de forças G e falhas devido à vibração em altas velocidades.

Foi neste ponto que Lisenby se interessou pelas possibilidades do planador dinâmico e começou a fazer seus próprios modelos especialmente adaptados e projetados para a velocidade.

O problema das falhas nas asas foi resolvido simplesmente adicionando mais carbono. “As pessoas não tinham feito isso porque havia todo um conceito de que os planadores tinham que ser leves”, disse Lisenby. A questão da vibração foi resolvida utilizando servomotores nas superfícies de controle em um arranjo específico que não permite folgas, gerando maior rigidez nas estruturas.

A velocidade dos planadores no ar foi medida usando pistolas-radar portáteis de observadores no solo, como aquelas utilizadas por policiais nas estradas. O radar tem a vantagem de não depender da temperatura do ar e da velocidade do vento, estar fixo no solo e ser fácil para qualquer pessoa em todo o mundo comparar suas velocidades entre si.

No entanto, houve um problema inicial em encontrar fabricantes que fizessem pistolas-radar que pudessem ir a mais de 310 mph. “Eu finalmente consegui persuadir a Customs Signals, empresa de pistolas-radar, a fazer para mim uma que pudesse ir até 575 mph. Eles até a chamaram de Falcon DS (o nome do planador) após o experimento da ascensão dinâmica. Não muito depois disso, a Applied Concepts fez a Stalker Pro II, que pode ir até 850 mph.”

“Não se trata apenas de desenvolver um projeto de aeronave, o operador do planador também precisa desenvolver habilidades para lidar com velocidades tão altas”, comenta Lisenby. “Quanto mais rápido você vai, mais rápido você tem que pensar. O tempo mínimo de órbita do planador é de apenas dois segundos, o que significa que, em 0,45 segundo, ele percorre mais de 100 metros.

Olhando para o futuro, Lisenby pretende impulsionar o planador ainda mais rápido para velocidades de até 580 mph (933 km/h).

Informações da Royal Aeronautical Society

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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