Entenda o que levou este Embraer 190 a pousar sem o trem de nariz baixado

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Um incidente com um Embraer 190 ganhou bastante notoriedade depois que o pouso da aeronave, com falha no abaixamento do trem de pouso dianteiro, foi transmitido ao vivo em 2016, mostrando o jato arrastando o nariz na pista até a parada, felizmente sem maiores consequências além dos danos materiais.

Relembre nos dois vídeos a seguir como foi o pouso e, logo abaixo deles, as conclusões sobre o que levou ao problema, conforme o relatório da investigação.

Recapitulando o incidente

Era 25 de março de 2016 quando o Embraer 190 registrado sob a matrícula N273JB, operado pela companhia aérea norte-americana Jetblue, fazia o voo de número B6-29 com 91 passageiros e 4 tripulantes a bordo, tendo partido do Aeroporto Ronald Reagan, de Washington, para o Aeroporto Lynden Pindling, de Nassau, nas Bahamas.

Quando a aeronave estava se aproximando de Nassau e sendo configurada para o pouso, os pilotos não receberam a indicação de trem de pouso baixado e travado, optando então por arremeter.

Na sequência, uma passagem baixa pelo aeroporto permitiu que pessoas em solo notassem que o trem do nariz não estava completamente estendido, mas presa quase fechado no compartimento onde fica guardado durante o voo.

A tripulação fez diversas tentativas de resolver o problema conforme os procedimentos do manual da aeronave, mas mesmo assim o trem de pouso não se estendeu, forçando-os a se preparar para um pouso na situação em que estavam.

Como você pôde notar nos vídeos acima, a aeronave pousou na pista 14 da Nassau e o piloto manteve o nariz levantado o máximo possível. Após o abaixamento do nariz, o Embraer 190 arrastou-se pela pista até a parada completa.

Os serviços de emergência imediatamente atenderam com jatos de espuma para evitar que algum incêndio eclodisse, e os passageiros desembarcaram na pista e foram levados de ônibus até o terminal.

Descobertas da investigação

No relatório final, divulgado pela Autoridade de Investigação de Acidentes Aéreos (AAIA) das Bahamas após três anos, em abril de 2019, os investigadores descrevem que o trem de pouso da aeronave foi encontrado preso no compartimento da roda e de acordo com entrevista à tripulação de voo, o trem de pouso fez um som incomum quando a alavanca do trem foi colocada na posição “estendido”.

Então, os trens principais foram mostradas como baixados e travados no painel, mas o de nariz permaneceu mostrado como em trânsito.

A aeronave permaneceu em esperas no ar por um tempo para queimar o excesso de combustível e, ao aterrissar, a estrutura sob o trem nariz foi danificada pelo atrito com o solo.

Conclusões

A AAIA relata que determinou que a causa provável desse acidente seja falha ou mau funcionamento de componentes do sistema operacional do trem de pouso do nariz, e que a análise conduzida revelou que o trem do nariz não estava centralizado durante seu trânsito de abaixamento, fazendo com que ficasse emperrado e nunca totalmente estendido.

Embora o relatório e a conclusão sejam bastante simplificados para uma investigação de três anos, de certa forma essa simplicidade se deve a outra informação incluída no relatório, sobre boletins de serviço para a família E-Jet E1 emitidos pela Embraer antes mesmo deste incidente, que já cobriam o tipo de falha encontrada no E190.

Assim, embora a AAIA não informe se a Jetblue havia cumprido ou não as instruções dos boletins, ela alerta sobre a importância de que todo operador dos aviões Embraer 170/175/190/195 cumpra as recomendações de segurança dos boletins para evitar que uma falha como essa se repita.

Sobre este mesmo assunto, uma Divulgação Operacional (DIVOP) emitida ao Brasil em 26 de agosto de 2015 pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) relata duas ocorrências prévias semelhantes e a mesma recomendação de atenção ao cumprimento dos boletins.

Segundo o CENIPA:

“Em 10 de fevereiro de 2015, a tripulação de uma aeronave Embraer 190, matrícula N953UW, reportou que, logo após selecionar a alavanca do trem de pouso para a posição “DOWN”, recebeu mensagens de “LG WOW SYS FAIL” e “LG LEVER DIAG” e a indicação de que o trem de pouso do nariz não estava baixado e travado.

A tripulação então declarou emergência, seguiu os procedimentos do Quick Reference Handbook (QRH) e, depois de dois sobrevoos pela pista, realizou o pouso com o trem de nariz na posição em cima.

Em outro evento anterior, ocorrido em 25 de junho de 2014, logo após o abaixamento da alavanca de trem de pouso para a extensão do mesmo, a tripulação de um Embraer 170, de matrícula N648RW, reportou mensagem de “LG WOW SYS FAIL” e “STEER FAIL”, no entanto, havia a indicação de trem de pouso baixado e travado.

A tripulação seguiu os procedimentos do QRH e, apos o pouso, foi contatado que o trem de pouso de nariz estava defletido em sua posição máxima para a direita. Não foi reportada dificuldade de controle no solo e a aeronave parou sobre a pista.

A análise destes eventos revelou que as condições observadas nos eventos descritos decorreram de uma rotação não comandada do trem de pouso de nariz dentro da baia onde o mesmo fica alojado durante o voo.

Além disso, foi observado que a falha do NWSCM (Nose Wheel Steering Controle Module, ou Módulo de Controle da Deflexão da Roda de Nariz) em voo foi um ponto em comum entre esses eventos, e que a rotação não comandada do trem de nariz ocorreu no momento da extensão dos trens de pouso.

O NWSCM é um módulo eletrônico que controla a rotação do trem de pouso de nariz, que é atuado hidraulicamente. O sistema de controle da rotação do trem de nariz possui sensores de posição (steering feedback sensors) que monitoram continuamente o ângulo de rotação do trem.

Os sensores no trem de pouso de nariz – Imagem: CENIPA

Durante o voo, sempre que estes sensores identificam que o ângulo do trem está defasado acima de um valor específico na linha de centro do trem de pouso de nariz, um sinal de correção é gerado, de modo que a roda fique alinhada. Cabe ressaltar que o sensor de posição possui um ajuste para que suas leituras sejam corretas e o sistema funcione corretamente,

A ocorrência, simultânea, de falha no NWSCM e o recolhimento de trem de pouso com a regulagem dos sensores de posição, fora de valores específicos, podem ter contribuído para os referidos incidentes.

O fabricante da aeronave emitiu os Boletins de Serviço 170-32-0076 e 190-32-0063 que têm por objetivo verificar a condição de regulagem do sistema de ‘steering’ e fazer o ajuste, se necessário, dos sensores de posição do trem de pouso de nariz.”

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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