Sem acordo com a Azul, TAP Air Portugal será reestatizada

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TAP Air Portugal

Sem acordo entre os sócios do Atlantic Gateway e o governo português, a ajuda estatal que seria dada à TAP Air Portugal não poderá chegar à empresa, de forma que ela possivelmente passará por um processo de reestatização. Mas ainda há muitas coisas a serem definitas, entenda abaixo.

Negociações andam devagar

As negociações não andaram ontem quando as medidas exigidas pelo governo português foram aceitas por David Neeleman, mas não pelo restante dos acionistas privados, incluindo a Azul.

Até o dia anterior, Neeleman tinha aprovado a ajuda do governo e sairia da TAP com sua multa de €50 milhões em caso de reestatização da empresa. David inclusive havia agradecido a ajuda do estado português.

Mas isso também dependia de sua “filha” mais velha, a brasileira Azul Linhas Aéreas. A empresa aérea faz parte do consórcio Atlantic Gateway que detém 45% da TAP.

A Azul emprestou em 2016 em torno de €90 milhões para a TAP, que devem ser pagos até 2026, sendo que os juros estão sendo pagos até o vencimento. Caso a portuguesa não pague o empréstimo, a brasileira terá como garantia 6% das ações da TAP.

E são estes 6% que incomodam o governo de Portugal, que não quer ver um investidor privado aumentar a sua fatia na empresa. Como a Azul não analisou os novos termos para não-execução da dívida em ações, o governo português deve decidir por reestatizar a empresa, adquirindo as ações do Atlantic Gateway.

Vale lembrar que a Azul não se posicionou sobre a proposta porque é uma empresa de capital aberto, e por mais que Neeleman seja o fundador e chefe do conselho de investidores, ele deve levar esta decisão a votação, o que não é rápido.

Essas novas decisões resultarão em 70% da empresa nas mãos do estado, 25% com Humberto Pedrosa – empresário português do ramo de ônibus e que é o segundo maior acionista no Atlantic Gateway após Neeleman – e os 5% restante mantidos com os funcionários da empresa.

A injeção de dinheiro português deve ser da ordem de €1,2 bilhão, para reestruturar a empresa durante a crise da Pandemia do Coronavírus, garantindo empregos e manutenção da empresa em mãos nacionais.

Batalha Política

Em meio à disputa de investidores, uma verdadeira batalha política se estabeleceu em torno da reestatização ou não da empresa, que reportou prejuízos milionários e irá reduzir substancialmente sua frota.

Pelo fato da TAP já ter sido estatal e a reestatização ter que passar pelo governo, a situação trouxe novamente a batalha política para a companhia aérea.

Partidos mais à direita defendem que a empresa continue privada, seja com novos investidores, seja com empréstimo para manter a composição atual, alegando que o país tem outras prioridades e que a “época de nacionalizações já passou”.

Já políticos à esquerda defendem que a TAP é uma empresa nacional e que o estado deve sim controlar a companhia, o que já deveria ter feito há anos por ser o maior acionista, com 50%. Outro ponto argumentado é que a empresa é essencial para a economia portuguesa e que nenhuma outra conseguiria ocupar o lugar dela, e irá falir caso não seja ajudada pelo estado.

Os argumentos tomaram canais políticos, que fizeram debates, e também geraram memes por parte de portugueses que perguntam se já podem vender “a sua fatia na TAP”.

Um dos enclaves maiores tem sido em torno do Ministro da Infraestrutura, Pedro Nuno, do Partido Socialista, que defende a nacionalização da empresa. Pedro chegou a afirmar que metade dos turistas chegam a Portugal pela TAP, o que não é verdade (o número é em torno de 40%).

Toda essa politização vem de anos: desde 2015, na época de eleição, o governo fechou a privatização da companhia, passando 61% para o Atlantic Gateway de Neeleman e Pedrosa.

Porém, após isso, o governo de António Costa, que assumiu cinco meses depois da privatização, forçou uma renegociação que reduziu a fatia dos investidores privados para 45%, mas que ainda assim mandavam na empresa.

Desde então, um debate está em torno da TAP, discutindo se a privatização foi boa ou não e se os novos “donos” estão sabendo gerir a empresa ou não. E agora a crise do Coronavírus só fez este debate ficar mais acirrado.

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Carlos Martins
Carlos Martins
Fascinado por aviões desde 1999, se formou em Aeronáutica estudando na Cal State Long Beach e Western Michigan University. #GoBroncos #GoBeach #2A

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