Tiro errado certeiro – a opinião de 1965 que gerou o atual sucesso do Boeing 747 cargueiro

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O protótipo do Boeing 747-100 em seu primeiro voo – Imagem: The Museum of Flight

O ano 2020 foi um (ou mais um) divisor de águas na história do notável projeto da década de 1960 da fabricante norte-americana Boeing, o 747 Jumbo Jet. Em meio à crise de viagens aéreas gerada pela pandemia da Covid-19, os aviões quadrimotores perderam quase completamente seu espaço no segmento de passageiros, porém, o clássico avião da “corcova” ressurgiu como o grande destaque do mercado cargueiro.

Diversos dos 747-400F que já haviam sido estocados até o início de 2020 foram retirados dos desertos e reativados, e até mesmo a versão de última geração, o 747-8F, que teve o fim de sua produção anunciado, ganhou mais algumas encomendas mesmo após o referido anúncio.

E o mais curioso de tudo isso é que uma parte (ou talvez a maior parte) desse sucesso do Jumbo no momento atual do segmento cargueiro se deve a uma opinião oferecida à Boeing por volta de 1965, quando o avião estava sendo desenvolvido.

E mais do que isso, não apenas o sucesso, mas também a icônica aparência do 747 com sua corcova, reconhecida até por leigos em aviação, também se deve a esta opinião. Uma opinião que não foi dada por alguém da própria fabricante Boeing, mas ainda sim por um nome que entendia bastante do mercado aéreo: Juan Trippe, fundador da Pan American World Airways, a também icônica Pan Am.

O único “porém” é que sua opinião, apesar de certeira, foi um tiro errado que acertou em cheio outro alvo que não o previsto.

O tiro errado certeiro

Naquele momento em que o projeto do 747 era desenvolvido, a indústria aeronáutica também vivia a perspectiva da chegada da era dos aviões supersônicos, os SST (transporte super-sônico, na sigla em inglês). Vendo a Boeing criar o maior avião já projetado na história, Juan Trippe alertou que o Jumbo Jet deveria ser preparado para voar também no mercado cargueiro, pois os SST tomariam seu lugar no mercado de passageiros nas décadas seguintes.

Como o fundador da Pan Am era um importante cliente dos produtos da Boeing, inclusive tornando-se em 1970 o responsável por voar o primeiro 747 a entrar em serviço comercial na história, a fabricante decidiu que era uma boa ideia levar em conta a opinião de Juan.

Avião Boeing 747-100 Pan Am Clipper Victor
O 747-100 “Clipper Victor”, o 1º Jumbo a voar comercialmente na história – Imagem: Rob Russell / CC BY 2.0, via Wikimedia Commons

A decisão dos projetistas do Jumbo foi que ele deveria ser capaz de abrir o seu nariz para permitir a entrada de cargas muito maiores, garantindo um diferencial importante em relação a outros modelos cargueiros. A solução foi o conhecido sistema de elevação do nariz através de dobradiças, mas, o cockpit ainda precisaria sair do caminho da entrada extra de carga.

Ele foi então elevado para cima da fuselagem e, após estudos aerodinâmicos, a conclusão foi que a melhor maneira para que o cockpit elevado não gerasse arrasto excessivo durante o voo era em afilamento atrás da cabine de comando, em formato semelhante ao de uma gota, garantindo uma transição suave até a seção padrão da fuselagem.

No fim da história, os supersônicos não tomaram o lugar o Boeing 747, que continuou um grande sucesso por mais de 50 anos, portanto, Juan errou em sua previsão. Mas, graças a ele, a Boeing foi instigada a desenvolver uma brilhante solução cargueira, que hoje garante dezenas de Jumbos desempenhando um papel fundamental na crise da Covid-19, com mais algumas unidades ainda saindo de produção até meados de 2022.

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Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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