Três Airbus A320 da Azul sofrem problemas hidráulicos na mesma semana

Na semana passada, três incidentes com Airbus A320 da Azul Linhas Aéreas foram reportados ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), sendo todos ligados à parte hidráulica. Os incidentes aconteceram nos dias 13, 16 e 17 de junho, conforme detalhes a seguir.

Airbus A320 neo da Azul Linhas Aéreas na aproximação para pouso

Primeiro incidente

O primeiro incidente ocorreu com o Airbus A320neo registrado sob a matrícula PR-YRB, que estava realizando o voo regular de passageiro AD2492, tendo decolado de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, com destino a Recife, em Pernambuco.

A aeronave decolou na manhã do domingo, dia 13, levando 82 passageiros e 6 tripulantes. Após a decolagem, o jato já estava voando no nível de voo FL390 (cerca de 39.000 pés) quando apresentou uma mensagem de ‘HYDRAULIC GREEN SYSTEM LOW PRESSURE’, indicando perda de pressão do sistema hidráulico verde.

A perda de pressão neste sistema pode comprometer a operação normal do trem de pouso, o sistema de freio normal, incluindo o autobrake. Além disso, a distância de pouso aumenta devido à perda de dois spoilers em cada asa e do reversor 1 (motor esquerdo).

Diante da indicação, os pilotos inciaram os procedimentos de consulta no Manual de Referência Rápida do Airbus e decidiram que a melhor medida era alternar para o Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, interior de São Paulo, sem a necessidade de declarar emergência, pois não se tratava de uma situação de risco iminente ao voo.

A aeronave efetuou um pouso sem intercorrências na pista 15 de Viracopos, cerca de 25 minutos após deixar o nível de voo de cruzeiro. Após um dia em solo, a aeronave retornou às operações normalmente.

O motivo pelo qual a aeronave alternou para Campinas, ao invés retornar a Ribeirão Preto, possivelmente se deve ao aeroporto ser o local onde fica o hangar de Manutenção, Reparo e Operações (MRO) da Azul Linhas Aéreas, além de ser a principal base da companhia, possibilitando a alocação rápida de uma aeronave alternativa.

Segundo incidente

O segundo incidente registrado no CENIPA aconteceu nas primeiras horas do último dia 16 de junho, com o Airbus A320neo registrado sob a matrícula PR-YRF, que realizava um voo regular de passageiro entre Campinas e Teresina, no Piauí.

Com 125 passageiro e 6 tripulantes, a aeronave realizou quase todo o voo AD2414 sem intercorrências, porém, durante a aproximação para pouso na pista 02 do Aeroporto Senador Petrônio Portella, apresentou uma indicação de ‘HYD G RSVR LO LVL’, o que significa um possível nível baixo de fluido do reservatório do sistema hidráulico verde.

A tripulação interrompeu os procedimentos para o pouso e subiu de 3.100 pés para 4.000 pés, de modo a trabalhar nos manuais e checklists do Airbus, realizando uma leitura no Monitoramento Eletrônico Centralizado de Aeronave (ECAM).

Dados obtidos através da plataforma RadaBox, mostram a rota da aeronave após abortar os procedimentos para o pouso em Teresina.

Rota do Airbus A320 após interromper os procedimentos para o pouso – Imagem: RadarBox

Após 20 minutos, a aeronave realizou um pouso sem intercorrência na pista 02 do aeroporto, onde ficou parada até ser rebocada para o pátio. O Airbus ficou 34 horas em solo até retornar às operações.

Terceiro incidente

Já o terceiro incidente ocorreu com o A320neo registrado sob a matrícula PR-YRV, que realizava o voo regular de passageiros AD4332, com 173 passageiros e 6 tripulantes, no último dia 17 de junho.

Segundo o registro do CENIPA, a aeronave havia decolado a noite do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, com destino ao Aeroporto Internacional do Recife, em Pernambuco.

Realizando um voo de cruzeiro a 37.000 pés, a aeronave apresentou uma mensagem de ‘HYD Y SYS RSVR LO LVL’ no ECAM, indicando um possível baixo nível no reservatório do sistema hidráulico amarelo, em tradução livre.

Segundo informações do manual da aeronave, o A320 funciona com três sistemas hidráulicos separados que, em emergências, podem ser combinados para funcionar como um só. Os 3 sistemas diferentes são o sistema verde, amarelo e azul.

No caso do amarelo, ele é responsável pelos seguintes componentes: flaps, freio de estacionamento, amortecedor de guinada, reverso do motor, profundor, estabilizador e manobrabilidade do trem de pouso de nariz. No entanto, os sistemas possuem redundâncias, ou seja, se houver uma falha, outro pode assumir e garantir a segurança do voo.

Os pilotos efetuaram os procedimentos descritos nos manuais e checklist relacionados ao problema, e decidiram declarar “Pan Pan” ao controle de tráfego aéreo, indicando uma situação de urgência, ou seja, que não representava risco iminente às pessoas ou à aeronave, mas necessitava de atenção especial até a conclusão do voo. Ele informaram que após o pouso teriam problema de steering (controle da roda dianteira para virar a aeronave em solo).

A aeronave alternou para o Aeroporto Internacional de Confins, tendo antes do pouso realizado uma órbita de espera para gastar parte do combustível e atingir um peso abaixo do limite máximo para o pouso, que foi executado na pista 16 sem intercorrências, após 30 minutos.

Dados obtidos através do RadarBox mostram a trajetória da aeronave após alternar para Confins. Na imagem abaixo também é possível observar a órbita de espera realizada antes do pouso.

Airbus A320 a caminho de Confins antes de realizar órbitas de espera – Imagem: RadarBox

Os pilotos foram capazes de levar o Airbus A320 até a taxiway E do aeroporto e, posteriormente, o jato foi rebocado para o estacionamento, onde todos desembarcaram normalmente. Após a ocorrência, a aeronave permaneceu em solo por 12 horas e retornou às suas operações.

Redundância de sistemas e segurança de voo

Como se observa pelos três casos de pane hidráulica registrados, os aviões são projetados com sistemas redundantes, ou seja, quando algo tem um comportamento fora do esperado, há formas alternativas das funções essenciais da aeronave continuarem em funcionamento, permitindo a continuidade segura do voo até o pouso.

Isso se aplica não apenas aos sistemas hidráulicos, mas sim a todos os sistemas e componentes das aeronaves, reduzindo assim os riscos de acidentes por panes e falhas a níveis muito pequenos.

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Juliano Gianotto
Juliano Gianotto
Ativo no Plane Spotting e aficionado pelo mundo aeronáutico, com ênfase em aviação militar, atualmente trabalha no ramo de fotografia profissional.

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