Câmera registra avião da Azul arremetendo devido a ‘windshear’, mas o que é isso?

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Imagem capturada do vídeo que você verá logo abaixo

Uma gravação de arremetida de um avião da Azul no Aeroporto Internacional Salgado Filho, de Porto Alegre (RS), acompanhada de escuta da comunicação de rádio entre o piloto e o controlador de tráfego aéreo, nos traz mais uma vez a oportunidade de apresentar aos leitores informações sobre o fenômeno de ‘windshear’.

Veja a seguir o vídeo, acompanhe a comunicação de rádio com o aviso do piloto sobre ‘windshear’ assim que ele começa a subir ao arremeter e, abaixo do vídeo, entenda um pouco mais sobre este fenômeno meteorológico que pode influenciar o voo das aeronaves.

Conforme você pôde ver no vídeo acima, gravado na última segunda-feira (11) pelo canal que transmite ao vivo as operações do Salgado Filho, a tripulação do voo de número AD4708 da Azul decidiu abortar a aproximação, o chamado procedimento de arremetida, após ter sofrido influência de uma ‘windshear’.

O dia 11 foi marcado por diversas aeronaves que pousariam em Porto Alegre fazendo longos períodos de espera em voo e/ou alternando para outros aeroportos devido a condições meteorológicas adversas que impediam a realização de aproximações e pousos com segurança no Salgado Filho.

O próprio voo AD4708, realizado naquela noite pela aeronave Airbus A320neo de matrícula PR-YRL que partiu de Campinas (SP), fez duas órbitas de espera e então prosseguiu para um pouso alternado em Curitiba (PR) após a arremetida do vídeo. Veja na imagem a seguir as esperas tanto deste voo quanto de outros daquele mesmo momento.

Voos com destino a Porto Alegre na noite do dia 11 de janeiro – Imagem: FlightRadar24

O fenômeno de ‘windshear’, que levou o Airbus A320neo a arremeter e os pilotos dos demais voos a permanecerem em espera até a melhoria das condições, pode ser definido como uma variação repentina na direção e/ou na velocidade do vento, de acordo com definição da REDEMET, Rede de Meteorologia do Comando da Aeronáutica do Brasil.

O fenômeno, também denominado cortante de vento, gradiente de vento ou cisalhamento do vento, pode ocorrer em todas as altitudes de voo, entretanto, é particularmente perigoso em baixa altura, nas fases de aproximação, pouso e subida inicial, em face da limitação de distância ao solo e de tempo para manobra das aeronaves.

A ilustração a seguir exemplifica uma condição de tempo em que a ‘windshear’ pode acontecer. Diante de uma forte corrente de vento descendo de uma nuvem de tempestade, ao cruzá-la a aeronave experimentará as variações de direção e/ou velocidade do vento que definem a presença de ‘windshear’.

Exemplo de situação em que pode ocorrer ‘windshear’ – Imagem: ANAC

Assim, como o piloto deve sempre evitar a continuidade de uma aproximação e de um pouso quando a aeronave não se encontra devidamente estabilizada, a instabilidade gerada pelas variações abruptas de altitude e velocidade da ‘windshear’ leva à necessidade da arremetida em prol da segurança de voo.

Inclusive a recomendação ao piloto, ao atravessar esta condição de voo, é, entre outras, de não tentar alterar configurações de flaps, slats, trem de pouso, pois diante das mudanças intensas do vento as ações podem não ter efeito nenhum ou até mesmo ter efeito contrário ao esperado, levando a um maior risco de colisão contra o solo.

Assim, conforme feito pelo piloto da Azul, a aplicação de potência e o início da subida na arremetida são medidas recomendadas para superar a condição adversa de ‘windshear’ e prosseguir com uma nova aproximação posterior com mais segurança. No vídeo é até possível notar que o A320neo apresenta alguma alteração do nível horizontal de suas asas em função da instabilidade gerada pela variação de vento.

Relembre a seguir um vídeo que também já trouxemos aqui aos leitores do AEROIN, em que uma gravação no cockpit de um Boeing 737 da Gol mostra o trabalho que podem ter os pilotos para manter a estabilidade quando a aeronave atravessa uma região de ‘windshear’.

Abaixo, deixamos algumas sugestões de incidentes em que a presença de ‘windshear’ teve influência nas causas das ocorrências.

Murilo Basseto
Murilo Bassetohttp://aeroin.net
Formado em Engenharia Mecânica e com Pós-Graduação em Engenharia de Manutenção Aeronáutica, possui mais de 6 anos de experiência na área controle técnico de manutenção aeronáutica.

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