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Você sabia que o Brasil já teve voo para o Iraque e operado com Boeing 747?

Poucos sabem, mas o Brasil já teve uma ligação com o Iraque e operada com Boeing 747-200. No entanto, os motivos dos voos nem sempre foram claros.

Foto de Paul Nelhams via Wikimedia Commons

Tudo começou em 1981 com um voo semanal na rota entre o Rio de Janeiro e Bagdá, capital do Iraque, que era operado com aeronaves Boeing 707 da Iraqi Airways. Entre 1980 e 1987, a empresa voou ininterruptamente para o Brasil. Entre 1987 e 1989 houve uma pausa, e os voos foram retomados às vésperas da Guerra do Golfo, durando apenas mais um ano antes das operações se encerrarem definitivamente.

Nos primeiros anos, o voo era operado com o Boeing 707, que não tinha autonomia para voar sem escalas e, portanto, acabava parando em Lisboa e Amã, na Jordânia, antes de chegar ao Rio de Janeiro. Na volta, o trajeto era o mesmo.

Com o passar do tempo, o aumento na quantidade de expatriados brasileiros no Oriente Médio e a intensificação do fluxo de exportações do Brasil, o equipamento acabou sendo mudado para o Boeing 747-200 Combi já no fim dos 1980. Mas alguns citam outro motivo para que a empresa estatal iraquiana colocasse uma aeronave maior na rota.

Países parceiros

Poucos sabem, mas, naquela época, Iraque e Brasil mantiveram intenso relacionamento bilateral, decorrente da complementaridade entre as duas economias, resultando em um pujante intercâmbio comercial, segundo o Itamarary.

A chancelaria brasileira inclusive lista algumas obras de empresas brasileiras no Iraque entre 1981 e 1987, que resultaram num fluxo grande de passageiros de e para o país do Oriente Médio. Dentre os exemplos citados estão rodovias, estações de bombeamento de água, ferrovias e edifícios, sobretudo construídos pela empreiteira Mendes Junior.

Foi uma época de intenso tráfego de pessoas, mas também comercial. Segundo matéria da Folha de São Paulo, cerca de 10 mil trabalhadores brasileiros da construtora foram para o Iraque. Escolas, dois hospitais, consultórios dentários, supermercados, clubes e cantinas foram construídos no deserto.

No entanto, com o Iraque concentrado em sua guerra contra o Irã, a construtora brasileira passou a ver uma inadimplência crescente, até que em 1987 abandonou o país e passou a cobrá-lo em cortes internacionais. A data coincide com a primeira parada dos voos da Iraqi Airways ao Brasil.

Cartaz com os horários dos voos ao Brasil

Dois anos depois, a empresa voltaria a operar voos ao Brasil. No entanto, naquele momento já não haviam mais obras, o que coloca sob suspeita os reais motivos para os novos voos, dessa vez com Boeing 747.

Embora não citado pelo Itamaraty, pessoas que participaram da operação na época citam a compra de grandes quantidades de armamentos brasileiros pelos iraquianos, em meio às tensões na região que resultariam na Guerra do Golfo. Isso justificaria a colocação de uma aeronave com maior capacidade de carga na rota, no caso, o Boeing 747-200 Combi.

Com a escalada da guerra, cidadãos e empresas brasileiras deixam o Iraque em 1991 em decorrência da Guerra do Golfo, acarretando na ruptura de contratos e o não pagamento de dívidas iraquianas. A embaixada brasileira em Bagdá é esvaziada de seu pessoal diplomático no dia 12 de janeiro daquele ano.

Quantos passageiros voaram na rota

Segundo um levantamento inédito do Aviação Brasil, com base em informações históricas do antigo Departamento de Aviação Civil (DAC) do Brasil, o total de passageiros transportados pela empresa iraquiana entre 1981 e 1990 chegou a 33.000 passageiros, com destaque para os anos de 1985 e 1986, quando mais de 5.000 pessoas foram transportadas em cada ano.

O Portal Aviação Brasil e o AEROIN firmaram uma parceria em 2020, com o objetivo de prover ainda mais informações de qualidade ao pessoal da aviação e aos entusiastas. O Portal Aviação Brasil possui uma ampla base de dados, com informações desde os anos 1930, e fornece soluções para o setor aeronáutico baseado na análise de dados.

Managing Director - MBA em Finanças pela FGV-SP, estudioso de temas relacionados com a aviação e marketing aeronáutico há duas décadas. Grande vivência internacional e larga experiência em Data Analytics.
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